Crítica de Francisco durante a audiência à Roaco: “A ira de Deus irá desencadear-se sobre quem fala de paz e vende armas”. O anúncio: “Quero ir ao Iraque no próximo ano”
IACOPO SCARAMUZZI
CIDADE DO VATICANO, 10/06/2019 – Foto: La Stampa
O Papa Francisco pretende ir ao Iraque “no ano que vem”: disse-o ele mesmo, recebendo os participantes da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (Roaco1), aos quais lembrou:
“Gritam as pessoas em fuga amontoadas nos navios, em busca de esperança, sem saber que portos poderão acolhê-las, na Europa, que, no entanto, abre os portos para as embarcações que vêm para carregar armas sofisticadas e caras, capazes de produzir devastações que não poupam nem mesmo as crianças”. Uma “hipocrisia” sobre a qual ele também se deteve quando, falando da guerra na Síria, frisou: “Muitas vezes penso na ira de Deus que se desencadeará sobre os responsáveis de países que falam de paz e vendem armas para fazer estas guerras : isso é hipocrisia, é um pecado”.
“Um pensamento insistente me acompanha pensando no Iraque, onde tenho vontade de ir no próximo ano – disse o Papa – para que esse país possa olhar para a frente através da participação pacífica e compartilhada na construção do bem comum de todos os componentes, inclusive religiosos, da sociedade, e não volte a cair em tensões que vêm dos conflitos nunca adormecidos das potências regionais “.
A ideia de uma viagem do Pontífice ao Iraque não é nova, mas foi sempre adiada porque, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista da segurança, não era possível, como disse mais uma vez a Santa Sé em janeiro passado. O próprio Francisco, em fevereiro de 2018, havia dito: “Estamos pensando nisso, mas as condições atuais não o permitem”.
Falando aos participantes da 92ª assembleia plenária da Roaco, o Papa fez uma incursão pelas questões relativas ao Oriente Médio.
“Nestes dias, as intervenções dos Representantes Pontifícios de alguns países, bem como as dos oradores escolhidos, vão ajudar-vos a escutar o clamor de muitos aos quais, nestes anos, a esperança foi roubada”, disse o Pontífice argentino: “Penso com tristeza, mais uma vez, no drama da Síria e nas nuvens densas que parecem adensar-se em algumas áreas ainda instáveis e onde o risco de uma crise humanitária ainda maior continua alto”.
- Aqueles que não têm comida,
- aqueles que não têm assistência médica,
- que não têm escola,
- os órfãos, os feridos e as viúvas
- levantam suas vozes para o alto.
Se os corações dos homens são insensíveis, não o é o de Deus, ferido pelo ódio e pela violência que se podem desencadear entre as suas criaturas, sempre capaz de comover-se e de cuidar delas com a ternura e a força de um pai que protege e orienta. Mas também – acrescentou – penso muitas vezes na ira de Deus que se desencadeará sobre os responsáveis dos países que falam de paz e vendem armas para fazer estas guerras: isso é hipocrisia, é um pecado “.
“Pessoas em fuga amontoadas nos navios, gritam em busca de esperança, sem saber que portos os poderão receber, na Europa; Europa que, no entanto, abre os portos para os navios que vêm para carregar armas sofisticadas e caras, capazes de produzir devastações que não poupam nem mesmo as crianças”, disse ainda o papa.
“Esta é a hipocrisia de que falei. Estamos cientes de que o grito de Abel sobe até Deus, como lembramos em Bari há um ano atrás , orando juntos pelos nossos fiéis no Oriente Médio”.
Na meditação introdutória ao dia de oração e de diálogo com os Patriarcas do Oriente Médio, em 7 de julho, em Bari, o Papa disse:
“Haja paz: é o grito dos muitos Abel de hoje que sobe ao trono de Deus. Por eles, não podemos mais permitir-nos dizer, seja no Oriente Médio ou em qualquer parte do mundo: “Sou por acaso o guarda do meu irmão?” (Gn 4: 9). A indiferença mata, e nós queremos ser uma voz contra o assassinato da indiferença. Queremos dar voz àqueles que não têm voz, àqueles que só conseguem engolir lágrimas, porque o Oriente Médio hoje chora, hoje sofre e cala, enquanto outros o pisoteiam em busca de poder e de riquezas. Para os pequenos, os simples, os feridos, para aqueles ao lado dos quais está Deus, nós imploramos: que haja paz!”.
Na Roaco, o Papa recordou também, nesta manhã, a Ucrânia,
“para que possa encontrar paz a sua população, cujas feridas causadas pelo conflito procurei aliviar com a iniciativa caritativa para a qual muitas realidades eclesiais contribuíram”.
Na Terra Santa , disse ainda Francisco,
“desejo que o recente anúncio de uma segunda fase de estudo da restauração do Santo Sepulcro, em que estão lado a lado as comunidades cristãs do status quo, seja acompanhado pelos esforços sinceros de todos os atores locais e internacionais para que se chegue em breve a uma convivência pacífica de todos os que habitam naquela terra, sinal para todos das bênçãos do Senhor”.
O Papa não deixou de recordar as “vozes de esperança e consolação” que existem no Oriente Médio, especialmente entre os jovens:
“Este ano, os jovens da Etiópia e da Eritreia – depois da tão suspirada paz entre os dois países – abandonando as armas, sentem que são verdadeiras as palavras do Salmo: “Transformaste o meu lamento em dança”. Tenho certeza – disse – de que os jovens sentem fortemente o chamado a essa fraternidade sincera e respeitosa com cada um, que recordámos com o Documento assinado em Abu Dhabi, juntamente com o Grande Imã de Al-Ahzar.
Ajudai-me a fazê-lo conhecer e a divulgar a boa aliança para o futuro da humanidade, contida nele. E comprometamo-nos todos a preservar aquelas realidades que estão vivendo esta mensagem há anos, com um pensamento especial para as instituições formadoras, escolas e universidades, tão preciosas especialmente no Líbano e em todo o Oriente Médio, autênticos laboratórios de convivência e exercícios de humanidade aos quais todos podem ter acesso facilmente”.
1 ROACO – Reunione dele Opere di Aiuto alle Chiese Orientali.
Iacopo Scaramuzzi
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