Equipa internacional de cientistas anuncia esta quinta-feira que as misteriosas emissões de CFC-11 aumentaram cerca de 7000 toneladas por ano desde 2012.
Usados em aerossóis, refrigerantes ou na produção de espuma rígida de empacotamento, os químicos sintéticos CFC são os grandes culpados pela destruição do ozono estratosférico – e, portanto, pelo buraco camada de ozon o sobre a Antárctida descoberto em 1985. Desta forma, em 1987, 150 países assinaram o Protocolo de Montréal, em que se comprometiam a eliminar a produção destes gases.
Investigações recentes já tinham demonstrado que esta camada essencial para os seres vivos estava a recuperar. Por exemplo, em 2017, a NASA anunciou que o buraco da camada de ozono diminuiu para o menor tamanho desde 1988.
Conhecido como triclorofluorometano, o CFC-11 foi desenvolvido nos anos 30 para refrigerantes. Usado também em aerossóis ou solventes, sabe-se que pode ficar 50 anos na atmosfera depois de ser libertado. Como a produção deste CFC foi proibida nos países desenvolvidos nos anos 90 e no resto do mundo em 2010, verificou-se que entre 2002 e 2012 as suas concentrações diminuíram.
Para perceber de onde vêm as recentes emissões de CFC-11, a equipa combinou observações atmosféricas de estações de monitorização em Gosan (na Coreia do Sul) e em Hateruma (no Japão) – mais próximas da China – com dados globais de monitorização e de transportes de químicos na atmosfera.
“Através de redes globais de monitorização como a Experiência Avançada de Gases Atmosféricos Globais (AGAGE) e a Divisão de Monitorização Global da NOAA [a agência dos oceanos e da atmosfera dos EUA], conseguimos medir os CFC na atmosfera ao longo de 40 anos”,
diz Matt Rigby, autor principal do trabalho e da Universidade de Bristol (Reino Unido), num comunicado da sua instituição.
“Conseguimos assim delimitar a localização de uma fracção substancial das emissões de CFC-11 até à escala das províncias. Essas emissões vêm sobretudo das ou à volta das províncias de Shandong e Hebei [no Leste da China]”, diz ao PÚBLICO Luke Western, também da Universidade de Bristol e autor do trabalho.
O cientista refere que a determinação do local exacto das emissões dentro de cada província chinesa vai agora requerer medições mais próximas da fonte. “Espero que o nosso trabalho possa informar outras [partes interessadas] para que se procure e localize melhor a fonte dessas emissões”, salienta.
Será da espuma para isolamento?
Neste estudo também se contabilizou a quantidade dos CFC-11 emitidos. Para isso, além da monitorização nas estações, fizeram-se simulações computacionais.
“A partir dos dados da Coreia do Sul e do Japão, usámos modelos para mostrar que as emissões de CFC-11 no Leste da China aumentaram cerca de 7000 toneladas por ano desde 2012, sobretudo nas províncias de Shandong e Hebei ou à volta delas”,
refere Luke Western. Também é possível que pequenos aumentos possam ter surgido noutros países e noutras partes da China.
Quanto à causa das emissões, os cientistas apenas lançam hipóteses. Luke Western refere que não se pode ter a certeza do processo que as gerou, mas que a explicação mais plausível será a produção de espuma para isolamento.
“Os CFC-11 foram usados sobretudo em espuma para isolamento. Por isso, olhámos para as estimativas das quantidades de CFC-11 que ficaram aprisionadas nessas espumas em edifícios e refrigeradores feitos antes de 2010 [quando o CFC-11 foi proibido em todo o mundo], mas as quantidades são demasiado pequenas para explicar a subida recente”, sublinha Matt Rigby.
“A explicação mais provável é que tenha havido uma nova produção, pelo menos antes do final de 2017, que é o [limite do] período de cobertura deste trabalho.”
Sobre o que pode fazer o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (que administra o Protocolo de Montreal), Luke Western aconselha:
“Penso que a abordagem mais positiva será trabalhar com os países para assegurar que são capazes de adoptar medidas contra indivíduos ou empresas que estão a produzir substâncias proibidas pelo Protocolo de Montréal.”
Por agora, Matt Rigby diz é necessário encontrar os responsáveis por estas novas emissões. Já estivemos mais longe.
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