Darío Aranda – 07 Março 2019
Um relatório de organizações alemãs mostra como algumas corporações controlam o sistema alimentar do planeta.
O agronegócio e a conivência dos governos.
Um punhado de empresas dos Estados Unidos, Europa e China
- decide o que o agronegócio mundial produz,
- como a população se alimenta
- e, ao mesmo tempo, como se adoece e empobrece.
São algumas das definições do Atlas do agronegócio,
- uma pesquisa de organizações alemãs
- que denuncia com nomes próprios as práticas das companhias
- e a conivência dos governos.
O trabalho também derruba o mito das multinacionais agrícolas.
“O agronegócio (de transgênicos e agrotóxicos) não pode conservar o meio ambiente, nem a subsistência de produtores, como também não pode alimentar o mundo”.
A pesquisa denuncia as práticas das empresas do agronegócio, cerealistas, multinacionais da alimentação e supermercados.
- Da Alemanha, destacam as práticas da Bayer e Basf;
- dos Estados Unidos, da Bunge, Cargill, Coca-Cola, Dow, DuPont, Kraft e Monsanto;
- da Grã-Bretanha, da multinacional Unilever;
- da França, da Danone e Carrefour;
- da China, da ChemChina e Cofco;
- da Suíça, da Glencore, Nestlé e Syngenta;
- dos Países Baixos, da Louis Dreyfus e Nidera.
- Da Argentina, aparecem as empresas Los Grobo, Don Mario, Bio Sidus e Cencosud, entre outras.
O trabalho foi realizado pelas fundações
- Heinrich Böll, Rosa Luxemburgo,
- Amigos da Terra Alemanha (BUND),
- Oxfam Alemanha,
- Germanwatch
- e Le Monde Diplomatique.
Aponta o modelo de agronegócio como “o moderno latifúndio”, que desde fins do século XX avançou com a chamada agricultura industrial, de monoculturas (principalmente óleo de palma, milho e soja).
Assinala quatro empresas que dominam o mercado de sementes e agrotóxicos:
- Bayer(que em 2018 comprou a Monsanto),
- ChemChina–Syngenta,
- Brevant (Dow e Dupont)
- e Basf.
Em 2015, faturaram 85 bilhões de dólares e, segundo projeções da Bayer, chegarão a 120 bilhões em 2025.
Alega que
- as empresas do setor assumiram pouca responsabilidade pelas consequências de suas práticas,
- que repercutiram em “fome, mudança climática,sustentabilidade, doença e injustiça”.
A pesquisa conta com um capítulo intitulado: A república unida da soja (com base em uma publicidade da multinacional Syngenta, que assim chamou a Argentina,Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil).
“O papel da Argentina na promoção do modelo agrícola industrial transgênica foi crucial. Representou a cabeça de ponte desta expansão para a indústria da semente e a agroquímica mundial”, afirma.
Fumigação de agrotóxico sem controle: não importa a saúde e a vida, importa o dinheiro. Agora querem nos enganar mais ainda, mudando o nome para “Defensivos Agrícolas”: Defensivos do Lucro deles, mas muito Ofensivos para a nossa Saúde / Internet-Reprodução
Explica que o eixo governamental teve um papel central. Denuncia a conivência da
- Comissão Nacional de Biotecnologia,
- o Serviço de Saúde e Qualidade Agroalimentar,
- a Secretaria de Agricultura
- e o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária.
Depois de mais de 20 anos da aprovação da primeira soja transgênica, os mesmos organismos ainda bendizem os transgênicos e agrotóxicos com base em estudos das próprias empresas que os produzem e vendem.
O trabalho também
- denuncia o papel de “pseudo-organizações técnicas” que
- espalham as bondades do modelo,
- mas ocultam as consequências.
Destaca
- a Associação de Produtores de Semeadura Direta,
- a Associação de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola
- e as fundações Fertilizar e Produzir Conservando.
Afirma que o modelo agropecuário atual é uma “agricultura mineira”, que extrai nutrientes dos países sul-americanos e gera enormes impactos ambientais.
Por que o agro-negócio trava guerra contra alimentos orgânicos e alimentação saudável? Foto: Daqui
Especifica o papel de empresas que costumam passar desapercebidas no debate do agronegócio mundial: as exportadoras ou, como chamou o jornalista Dan Morgan, “traficantes de grãos”.
Quatro transnacionais dominam o setor:
- Archer Daniels Midland (ADM),
- Bunge,
- Cargill
- e Louis Dreyfus.
Juntas são conhecidas como o “Grupo ABCD”. Sua participação no mercado mundial é de 70%. Nos últimos anos, a chinesa Cofco se somou ao grupo.
O mercado de alimentos também está em muito poucas mãos: 50 grupos empresariais faturam a metade das vendas mundiais.
As dez principais (sem incluir o setor de bebidas) são
- Nestlé (Suíça), JBS (primeiro provedor de carne mundial, do Brasil). Do terceiro ao sexto lugar são empresas dos Estados Unidos:
- Tyson Foods,
- Mars,
- Kraft Heinz,
- Mondelez,
- seguidas por Danone (França),
- Unilever (Grã-Bretanha)
- e as estadunidenses General Mills
- e Smithfield.
“Com a expansão dos consórcios multinacionais, os hábitos alimentares são modificados. Os alimentos pouco processados são substituídos pelos ultraprocessados. O sobrepeso, a diabetes e as doenças crônicas são apenas algumas das consequências”,
alerta a pesquisa, que foi apresentada na Europa, Brasil e Argentina, e contou com a participação local do Grupo de Ecologia da Paisagem e Meio Ambiente (Gepama), da Universidade de Buenos Aires.
Também destaca
- a urgente necessidade de fortalecer,
- mediantes políticas públicas,
- a agroecologia (um modelo sem transgênicos, nem agrotóxicos, c
- om a participação central de camponeses, indígenas e pequenos produtores)
e ressalta duas ações históricas contra as multinacionais:
- o boicote mundial contra a Nestlé (entre 1977 e 1984) por sua enganosa publicidade do leite em pó para bebês
- e a luta dos povos fumigados da Argentina, que são a prova viva dos impactos dos agrotóxicos na saúde
- e, ao mesmo tempo, estimulam modelos de produção sem venenos.
Recorda a epopeia da região das Malvinas Argentinas (Córdoba), que após quatro anos de resistência expulsou a Monsanto de seu território.
Dario Aranda
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/587207-os-donos-do-agronegocio-e-a-alimentacao
.
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