JN – 12 Novembro 2018
Na Foto: Perda da biodiversidade pode ser fatal para a espécie humana | Parque Nacional de Yellowstone, Estados Unidos. / Adam Willoughby-Knox/Unsplash
Se não for colocado um travão na perda da biodiversidade no mundo, a espécie humana pode assistir à sua própria extinção.
O alerta é da diretora executiva da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica, que, na terça-feira, vai reunir 196 estados-membros em Sharm el Sheikh, no Egito, para debater a destruição dos ecossistemas.
As estruturas internacionais devem, no prazo de dois anos, garantir um acordo que consiga travar a perda da diversidade biológica na Terra, avisou Cristiana Pașca Palmer, que descreveu a ameaça da biodiversidade como um “assassino silencioso”, tão perigoso para a preservação da Natureza e para a continuidade da humanidade como as mudanças climáticas. Silencioso porque, ao contrário do que acontece com o aquecimento global, não faz sentir impactos imediatos. “Em relação à perda da biodiversidade, não é claro mas, na altura em que estiver a acontecer, já poderá ser demasiado tarde”, disse a especialista em entrevista ao “The Guardian” no início do mês.
Biodiversidade é o conjunto das formas de vida existentes no mundo, desde espécies individuais a ecossistemas inteiros. O modo como funciona condiciona as condições da vida na Terra
Antes da importante conferência internacional de amanhã, em que se vai discutir o colapso dos ecossistemas, a responsável da ONU sublinhou a necessidade de os governos traçarem metas globais até 2020 no sentido de
- preservar a existência de plantas e animais em vias de extinção (sejam insetos, pássaros, mamíferos),
- a produção de alimentos,
- o recurso a água potável
- e a captura de carbono (processo de remoção de dióxido de carbono).
Os membros da Convenção – 195 países e as nações da União Europeia – vão reunir-se na terça-feira em Sharm el Sheikh, Egito, para iniciar discussões sobre uma nova estrutura para a gestão de ecossistemas e da vida selvagem do mundo.
A conferência dará início a dois anos de negociações, que Pasca Palmer espera que culminem num novo acordo global, oficializado na próxima conferência sobre o tema em Pequim, em 2020.
Derrubada de floresta na Indonésia para abrir caminho para uma concessão de plantação de palmeiras para óleo de coco / Photograph: Ulet Ifansasti/Greenpeace
- está em curso a sexta extinção em massa na história da Terra
- e é mais severa do que se temia.
- Trata-se de uma “aniquilação biológica” da vida selvagem nas últimas décadas.
Apesar de a comunidade científica garantir que
- o fim da diversidade biológica
- é uma ameaça tão grande como o aquecimento global,
o tema não tem recebido a atenção que era esperada.
Os últimos dois maiores acordos sobre biodiversidade – em 2002 e 2010 – falharam em travar a pior potencial perda de vida na Terra desde a extinção dos dinossauros.
Há oito anos, sob as Metas de Aichi para a Biodiversidade,
as nações prometeram
- reduzir para metade a perda de habitats naturais,
- garantir a pesca sustentável em todas as águas
- e expandir as reservas naturais de 10% a 17% das terras do mundo até 2020.
Os peixes habituaram-se a encontrar habitats fora do comum, apesar de o fenómeno constituir um risco para a biodiversidade. / © REUTERS/Stelios Misinas
Mas muitos países ficaram para trás, e aqueles que criaram áreas protegidas fizeram pouco para fiscalizá-las.
Apesar de alguns vislumbres de esperança – algumas espécies em África e Ásia recuperaram, a cobertura florestal na Ásia aumentou 2,5%, as áreas marinhas protegidas ampliaram-se -,
- há mais pontos negativos a lamentar do que positivos a exaltar
- e, no geral, o panorama é “preocupante”.
As já altas taxas de perda de biodiversidade causadas pela
- destruição de habitats,
- poluição química
- e espécies invasoras
vão acelerar nos próximos 30 anos como resultado das mudanças climáticas e do crescimento das populações humanas.
Até 2050, espera-se que
- África perca 50% de suas aves e mamíferos,
- e a pesca asiática entre em declínio.
- A perda de plantas e a vida marinha reduzirão a capacidade da Terra de absorver carbono, criando um ciclo vicioso.
“Os números são impressionantes. Espero que não sejamos a primeira espécie a documentar a nossa própria extensão”, disse ao jornal a antiga ministra do Ambiente da Roménia.
Um motivo de esperança, refere Cristiana Palmer, é
- a convergência de preocupações científicas
- e o crescente interesse da comunidade empresarial.
As principais instituições de clima e biodiversidade da ONU e cientistas da área realizaram, no mês passado, a primeira reunião conjunta e descobriram que
- medidas como proteção florestal,
- plantação de árvores
- e manejo do solo
poderiam fornecer até um terço da absorção de carbono necessária para manter o aquecimento global dentro dos parâmetros do acordo de Paris. No futuro, os dois braços do clima e da biodiversidade da ONU devem emitir avaliações conjuntas.
Biodiversidade na agenda da próxima cimeira do G7
Mesmo no que diz respeito à agenda política, o tema da biodiversidade não desempenha o papel devido. Em comparação com as cúpulas do clima, por exemplo, poucos chefes de Estado participam em conversas sobre o tema. No entanto,
- embora a política em alguns países esteja a ir na direção errada,
- há desenvolvimentos positivos a registar.
O presidente francês, Emmanuel Macron, foi recentemente o primeiro líder mundial a notar que a questão climática não pode ser resolvida sem contrariar a perda da biodiversidade. O tema estará na agenda da próxima cúpula do G7 em França.
Jornal de Notícias – Lisboa
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