Observatório do Clima – 16 Novembro 2018
“É estarrecedora a escolha do embaixador Ernesto Araújo como ministro de Relações Exteriores. Sua nomeação contraria uma longa tradição da política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão diplomático e um pária global.
O radicalismo ideológico manifesto nos escritos do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao negar a mudança do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais para combatê-la”,
afirma a nota da coordenação do Observatório do Clima, 15-11-2018.
Eis a nota.
É estarrecedora a escolha do embaixador Ernesto Araújo como ministro de Relações Exteriores. Sua nomeação contraria uma longa tradição da política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão diplomático e um pária global. O radicalismo ideológico manifesto nos escritos do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao negar a mudança do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais para combatê-la.
Araújo tem expressado posições fortes contra a globalização e contra o multilateralismo. Em nome dessa ideologia, e contrariando as evidências mais rasteiras,
- chama em seu blog Metapolítica 17 o combate à mudança climática
- de perversão da esquerda.
- Invoca uma teoria conspiratória
segundo a qual existe um projeto “globalista” de transferir o poder do Ocidente para a China (uma contradição em termos).
Parte desse grande complô seria o “climatismo”, que é como ele chama o esforço mundial para reduzir emissões de carbono – empreendido por líderes de todas as faixas do espectro político e com base em décadas de conhecimento científico acumulado.
Tal pensamento, caso prevaleça sobre o ofício do chanceler, será prejudicial ao Itamaraty e ao papel do Brasil no mundo.
- A diplomacia brasileira tem na defesa do multilateralismo um de seus pilares
- e, nos últimos 46 anos, vem se valendo do multilateralismo
- para projetar o Brasil na cena internacional
- em um dos poucos espaços nos quais o país é líder nato: a agenda ambiental.
O Itamaraty
- foi o primeiro ministério a entender
- como o patrimônio natural brasileiro é um dos ativos mais importantes dos tempos modernos.
O Brasil
- foi protagonista na Conferência de Estocolmo, em 1972;
- foi berço das grandes convenções de ambiente e desenvolvimento sustentável da ONU e da Agenda 21, em 1992;
- liderou na defesa dos países em desenvolvimento no Protocolo de Kyoto, em 1997;
- foi o parteiro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2012;
- e negociador fundamental do Acordo de Paris, em 2015.
Agora, está escalado para sediar a próxima conferência do clima, a COP25, em 2019.
Abdicar essa liderança
- em nome de uma ideologia de tons paranoicos
- contrariaria diretamente o interesse nacional,
- que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, prometeu colocar “acima de tudo” em sua campanha.
Sendo o Brasil o sétimo maior emissor de gases efeito estufa do planeta,
- também poria em risco enormes porções da população global – inclusive no Ocidente, como demonstram os recentes incêndios florestais na Califórnia –
- num momento em que a melhor ciência nos diz que temos apenas 12 anos para prevenir os piores efeitos da crise do clima.
Resta esperar que o cargo e suas responsabilidades
- tornem o chanceler Ernesto Araújo
- muito diferente do blogueiro Ernesto Araújo.
Observatório do Clima
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