Publicamos aqui uma “carta aberta” divulgada por um grupo de padres diocesanos e religiosos de diversas dioceses, congregações e institutos de vida consagrada de todo o Brasil, ‘refletindo e se unindo a favor da democracia e dos valores evangélicos’.
Eis o texto.
Brasil, 25 de outubro de 2018
Queridos irmãos e irmãs, somos um grupo de padres que teme pelo destino político que está sendo gestado para o Brasil. No corrente ano de 2018, depois de uma campanha marcada por mentiras, “Fake News”, e por manifestações claras de ódio e de indiferença quanto ao diálogo, nós queremos recordar ao povo que nos foi entregue, nossa firme convicção pelos valores evangélicos.
A fé cristã exige de nós uma firme postura diante do mal.
Os seguidores de Cristo não podem se permitir corromper por interesses, sejam eles ideológicos ou econômicos. Muito mais escandaloso, então, é a possibilidade de que os discípulos e discípulas de Jesus se permitam motivar pelo ódio contra as minorias, já tão esmagadas em nosso país.
- Os pobres,
- sem teto,
- sem trabalho,
- sem o mínimo de dignidade humana
são nossos senhores e sem eles, nenhum de nós poderá chegar à comunhão com Cristo (Mt 25,31-46).
As minorias são muitas nesse país marcado pela desigualdade:
- os negros e quilombolas que enfrentam o preconceito e a desigualdade de condições sociais;
- as comunidades indígenas que lutam para sobreviver;
- os grupos LGBTs tão perseguidos, desrespeitados e marginalizados; os imigrantes que buscam uma nova vida em nosso país;
- as mulheres que, ainda hoje são violentadas e ficam em cargos secundários na sociedade.
Todos esses grupos, e outros que sofrem injustiça são expressão de Cristo crucificado entre nós.
Tendo em vista essas realidades,
- sabedores que somos da enorme crise ética pela qual passamos
- e pela desconfiança de grande parte da população em relação às instituições democráticas,
- pedimos ao nosso povo que não arrisque abrir mão da democracia,
- que a duras penas resgatamos após um regime militar autoritário e ditatorial.
Deixar de lado a democracia para acolher e confiar num discurso de um candidato que possui uma fala extremamente excludente e marcada pela violência, é abandonar o Evangelho e colocar a esperança em falsos deuses.
A democracia brasileira é recente e precisa constantemente ser melhorada. Não esqueçamos que a democracia não é o regime político onde
- a maioria manda
- e as minorias se calam.
- Ou, em casos extremos, onde a maioria procura exterminar as minorias.
A democracia é o sistema em que todos têm seus direitos e deveres assegurados, pois cada ser humano é reconhecido em sua dignidade.
Como servos do povo de Deus que não podem deixar morrer a voz profética da Igreja, pedimos ao nosso povo que não se permita manipular por ideologias totalitárias. Os cristãos
- são movidos pelos valores do Evangelho,
- são pobres de espírito,
- pacificadores,
- mansos de coração,
- têm fome e sede de justiça,
- são misericordiosos,
- são construtores da paz
- e, se preciso for,
- são perseguidos por defender esses valores que brotam do coração do Evangelho (Mt 5,1-11).
Pedimos ao nosso povo que trabalhe pela paz e assegure a democracia que garante nossa liberdade, abrindo mãos das lógicas de violência e de todo e qualquer tipo de preconceito e de ódio.
Somos um grupo formado por padres diocesanos e religiosos de diversas dioceses, congregações e institutos de vida consagrada de todo o Brasil, refletindo e se unindo a favor da democracia e dos valores evangélicos.
(seguem 111 assinaturas)
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