Mais do que em quaisquer outros recursos do Estado, é nos aparelhos securitários (Órgãos de Segurança – NdR)) que a extrema-direita se quer infiltrar.
Há pelo menos 25 anos que este processo está em curso. Desde
- que a direita radical começou a assaltar o poder nos países pós-comunistas,
- que Berlusconi chegou ao governo aliado com a extrema-direita
- e que os EUA passaram a ter presidentes como Bush Jr. e Trump,
que se discute se
- o clamor racista,
- xenófobo
- e o discurso do ódio e do Estado policial (e/ou da sociedade em armas) que se foi banalizando
- são ou não a versão séc. XXI do fascismo.
Agora que também o Brasil pode somar-se à lista, perguntemo-nos como chegámos até aqui.
Sintoma central dessa transição é a degradação generalizada da qualidade do sistema democrático, adoptando, antes de mais, formas de reforço do poder executivo que
- violam constituições,
- atacam políticas sociais que se julgava terem-se tornado ganhos definitivos
- e violam tratados internacionais (suspendendo, como a França ou a Grã-Bretanha, a aplicação da Convenção Europeia de Direitos Humanos)
- e que são incompatíveis com a democracia.
Não há fascismo sem emergência, sem que a maioria da sociedade acredite que vive em estado de emergência – social e económica por causa de uma crise, securitária por causa daquilo que lhe explicam ser uma guerra
- (contra “o terror”, por exemplo,
- ou, como no Brasil, contra “o crime”).
É nesta emergência tornada permanente, e que parece não terminar nunca, que,
- ao mesmo tempo que se fragiliza ao extremo a vida dos mais pobres, dos sem poder,
- o Estado adopta medidas securitárias “extraordinárias”,
- concedendo poderes discricionários às polícias e aos serviços de informação, sem controlo judicial e democrático (tortura, invasão de domicílio, vigilância não autorizada…).
O Estado e os media banalizaram um discurso autoritário contra a democracia (disfarçado, contudo, de preocupação com a “protecção da democracia”) que defende que
- a lei não protege os cidadãos,
- e por isso há que revogar direitos e liberdades cívicas dos “suspeitos” de pôr em causa a “segurança”,
- mas, dessa forma, generalizando a todos os cidadãos a retirada desses direitos e dessas garantias.
O discurso da paranóia securitária,
* não só culpabiliza minorias étnicas e grupos sociais inteiros
- (que podem ir dos muçulmanos em países ocidentais
- aos pobres e favelados no Brasil,
- suspeitos de parasitarem o Estado e de serem ameaças potenciais de roubo e violência),
* como justifica suspender, na prática, a democracia.
O fascismo nunca triunfa só com fascistas. Os que lhes emprestam credibilidade (e lhes dão o voto) é que são o problema. Um dia acordamos com eles no governo. A criar raízes.
Fonte: https://www.publico.pt/2018/10/06/mundo/opiniao/orban-trump-bolsonaro-como-chegamos-ate-aqui-1846408
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