Por Juremir Machado, Correio do Povo, 09/10/2018
Não, Jair Bolsonaro não é um candidato como outro qualquer. É pior.
Ele é
- um imaginário,
- uma mentalidade,
- uma visão de mundo.
O seu método de leitura do que acontece na vida é a simplificação. Torna o complexo falsamente simples por meio de uma redução a zero dos fatores que adensam qualquer situação.
- Se há violência contra os cidadãos, que cada um receba armas para se defender.
- Se há impunidade, que a justiça seja sumária e sem muitos recursos.
- Se há bandidos nas ruas, que a polícia possa matá-los sem que as condições de cada morte sejam examinadas.
- Se há corrupção, que não se perca tempos com processos.
Bolsonaro encarna o pensamento do homem medíocre, o homem mediano que não assimila explicações baseadas em causas múltiplas.
- Se há miséria, a culpa é da preguiça dos miseráveis.
- Se há crime, a culpa é sempre da má índole.
- Se há manifestações, é por falta de ordem.
A sua filosofia por excelência é o preconceito em tom de indignação moral, moralista.
A sua solução ideal para os conflitos é
- a repressão,
- a cadeia,
- o cassetete.
Bolsonaro corporifica
- o imaginário do macho branco autoritário
- que odeia o politicamente correto
- e denuncia uma suposta dominação do mundo pelos homossexuais.
É o cara que, com pretensa convicção amparada em evidências jamais demonstradas, diz:
– Não se pode mais ser homem neste país. Vamos ser todos gays.
Ele representa a ideia de que
- ficamos menos livres
- quando não podemos fazer tranquilamente piadas
- sobre negros, gays e mulheres.
Bolsonaro tem a cara de todos aqueles que consideram
- índios indolentes, dormindo sobre latifúndios improdutivos,
- e beneficiários do bolsa família preguiçosos
- que só querem mamar nas tetas do Estado.
Bolsonaro é o sujeito desinformado que sustenta que na ditadura não havia corrupção.
- É o empresário ambicioso que se for para ganhar mais dinheiro abre mão da democracia.
- É o produtor que vê exagero em certas denúncias de trabalho escravo.
- É o homem que acha normal, em momentos de estresse, chamar mulher de vagabunda.
O eleitor padrão de Bolsonaro sonha com uma sociedade de
- homens armados nas ruas,
- sem legislação trabalhista,
- sem greves,
- sem sindicatos,
- sem liberdade de imprensa.
O projeto de Bolsonaro é o retorno a um regime de força por meio de voto. Aparelhamento da democracia. Na parede do imaginário e de certas propagandas de Bolsonaro e dos seus fiéis aparecem ditadores.
- O seu paraíso é da paz dos cemitérios
- e das prisões para os dissidentes.
Um imaginário é uma representação que se torna realidade. Uma realidade que se torna representação.
Bolsonaro é um modo de ser no mundo baseado
- na truculência,
- na restrição de liberdade,
- na eliminação da complexidade,
- no encurtamento dos processos de tomada de decisões.
Bolsonaro usa a democracia para asfixiá-la.
É um efeito perverso do jogo democrático. Condensa uma interpretação do mundo que não suporta
- a diversidade,
- o respeito à diferença,
- a pluralidade,
- o dissenso,
- o conflito,
- o embate.
Inculto, ignora a história. Não há dívida com os escravizados e seus descendentes. A culpa pela infâmia da escravidão não é de quem escravizou. O presente exime-se do passado. Bolsonaro é a ignorância que perdeu a vergonha.
Contra ele só há um procedimento eficaz: o voto. Se necessário, o voto útil.
Juremir Machado
Fonte: https://www.revistaforum.com.br/juremir-machado-bolsonaro-e-uma-mentalidade/
A vários anos acompanho a coluna do Juremir no Correio do Povo de Porto Alegre e embora alguns o achem esquerdista ou anarquista tenho verificado que seus argumentos sempre são muito lógicos e fundamentados em dados históricos.