- namorou a vitória nas eleições presidenciais do Brasil logo à primeira volta
- mas ao obter mais de 46% dos votos válidos terá enfrentar ainda mais três semanas de campanha e uma eleição contra Fernando Haddad, que somou 28%.
Confirma-se um duelo entre
- dois candidatos de altíssima rejeição
- que terão de matar os fantasmas que os perseguem para lutar pelo Palácio do Planalto.
O país entra agora numa luta ente polos muito definidos que levou até, com algum humor,
- à criação de kits emigração, para quem não gosta nem de um nem de outro,
- e à hashtag #ficatemer,
apesar de o ainda presidente da República ser reprovado por quase 90% dos brasileiros.
Para Bolsonaro, “é tempo de dar um passo para o centro e para a direita, não à esquerda”.
“Não queremos uma Venezuela, não queremos voltar aos 13 anos da mais profunda crise ética, política e económica, queremos unir os casos do governo PT, que jogou os negros contra os brancos, os homossexuais contra os hetero, os nordestinos contra o sul”.
Haddad falou em unir o país democrático.
“Queremos unir os democratas, os que se preocupam com os pobres, a soberania nacional e a soberania popular”.
Para o segundo classificado na primeira volta
“há muito em jogo em 2018, como nunca houve de 1989 para cá, na segunda volta a nossa arma será o argumento, não termos mais armas, nem termos medo de ser felizes”.
O capitão do exército do PSL surgirá nas três semanas de campanha que restam
- em versão “paz e amor”,
- uma estratégia, aliás, que já vem executando desde a facada ano abdómen sofrida dia 6 de setembro em evento em Juiz de Fora.
Refém das declarações radicais proferidas ao longo de décadas na sua condição de deputado de baixo clero,
- contra as minorias
- e a favor da tortura, por exemplo – Bolsonaro disse na semana passada em entrevista à TV Record (que quer transformar na sua Fox News) que não era “tão mau assim…”.
Em paralelo,
- vem piscando o olho ao eleitorado nordestino, que no passado também já esteve debaixo da sua mira, para tentar colocar uma lança na maior fortaleza eleitoral do PT.
- E até aos homossexuais,
- às mulheres
- e a outros territórios onde se sente minoritário
- porque quer conquistar o centro.
O caso de Haddad, do PT, é diferente: vai mudar radicalmente a sua relação com o partido.
- Com o salvo-conduto ganho ontem,
- romperá com o velho PT
- que, para não assustar o seu eleitorado mais fiel,
- foi poupando na campanha de primeira volta.
Conhecido
- por ser da ala moderada do partido
- e por apontar sempre que pode os pecados dos governos do PT,
- deve erradicar do seu círculo íntimo os barões mais conservadores
- e fazer-se rodear de técnicos e de jovens.
A exceção, claro, é Lula da Silva, que da sua cela de Curitiba continuará a ser o seu mentor e conselheiro.
Ao mesmo tempo, lutará para atrair
- os votos de Ciro Gomes (PDT)
- e até de Marina Silva (Rede)
- e de parte dos de Geraldo Alckmin (PSDB)
para enfrentar a enorme vantagem do rival.
Na segunda volta, portanto, é provável que ouçamos o improvável:
- Bolsonaro a defender as minorias
- e Haddad a atacar as más práticas do PT.
Ciro com Haddad
Ciro entretanto já disse – ou quase disse – quem apoiará. “Agora? Agora vou beber uma cervejinha no bar mas todos sabem que tenho uma luta pela democracia e contra o fascismo, ele não”.
Bolsonaro, o visado por Ciro,
- só não ganhou as eleições à primeira volta
- pela mesma razão que na anterior Dilma Rousseff (PT) bateu Aécio Neves (PSDB):
o nordeste, a única das regiões do Brasil onde Haddad se revelou mais forte, como era esperado. E aquela onde Ciro, que fez carreira no Ceará, foi mais competitivo mas não ao ponto de ultrapassar o candidato do PT, como se chegou a supor.
Dececionantes, Alckmin e Marina terão encerrado as suas pretensões pessoais ao Palácio do Planalto ao perderem eleições pela segunda e pela terceira vez, respetivamente, com votações medíocres.
A eleição decorreu sem incidentes, além das tradicionais avarias nas urnas eletrónicas (mesmo assim uma percentagem ínfima do total) e das habituais detenções de centenas de eleitores apanhados a fazer campanha junto às secções de voto. No final, ouviram-se “vivas” a Bolsonaro, alguns foguetes e buzinas de automóvel – mas tímidas porque os dois campos sabem que ainda vem aí muita luta pela frente.
João Almeida Moreira
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