
Jornal GGN – 27/09/2018
Foto Agência Brasil
O poder não perdoa vácuos:
- em 2013 a esquerda aderiu ao legalismo
- permitindo à extrema-direita dominar o discurso de ruptura correspondendo à ansiedade da população
– A democracia se sustenta em cima de um sistema de balanças, do seu rompimento são gerados os governos autoritários, ou fascistas. Mas não se engane,
- não é porque recebem esse nome que tais governos são impopulares,
- e o Brasil corre hoje risco de assistir ao esmagamento do equilíbrio de pesos e contra-pesos da sua frágil democracia.
A análise foi levantada pelo filósofo e professor Vladimir Safatle, no debate “O fim da era dos pactos: violência política e novas estratégias”, organizado pela editora Boitempo na última semana.
- Ninguém acreditava,
- ninguém levava a sério o discurso do nazismo e sua ascensão,
- foi o que o pensador e sociólogo alemão Theodor Adorno identificou ao tentar entender o fenômeno,
lembrou Safatle.
“Era exatamente
- porque ninguém levava a sério,
- que o discurso podia circular,
- [um discurso] que tinha um lado cômico,
- ainda mais o fascismo italiano,
e não é por outra razão que todas as figuras autoritárias que apareceram nestes últimos 15 anos são cômicas:
- Berlusconi,
- Trump,
- Sarkozy”
- e agora Bolsonaro, no Brasil.
Sem a ironia seria insuportável ter que se mobilizar levando a sério o discurso, fundamenta Safatle:
“Dessa maneira você pode criar o modelo que foi o modelo da ditadura brasileira”,
- destacando a principal ironia do período de repressão
- que foi quando o país aderiu a todos os tratados internacionais de direitos humanos,
- enquanto o Estado praticava a tortura.
“Você pode criar esse jogo de aparência, que é o elemento fundamental para que essa situação se sustente”.
Mas a ascensão do fascismo não se faz apenas em cima do discurso irônico.
O poder não perdoa vácuos. “Não existe crescimento da direita onde a esquerda não traia. E onde erramos? Em 2013”, completa o filósofo.
Naquele momento
- a esquerda deveria ter aderido ao discurso da radicalização,
- mas se tornou legalista.
A extrema-direita, passou a assumir o discurso de ruptura das leis e contra o sistema político, tradicionalmente ligado às esquerdas.
- “Essa posição foi inventada pela esquerda, era essa a nossa posição.
- Nós sempre fomos anti políticos, no sentido da política tal como ela funcionou até hoje, dentro do seu processo de legalidade normal”.
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