Laurent Filippi | 28/09/2018 – Foto: Revista Época
Tradução: Orlando Almeida
Como todos os anos desde 1.600, os cristãos da Etiópia celebraram Mesqel, a festa da Verdadeira Cruz. Mas em 2018, as cerimônias de setembro assumiram um caráter excepcional para 40 milhões de fiéis.
Por um lado, o país assinou neste verão a paz com a vizinha Eritreia após 27 anos de guerra. Por outro, os dois ramos rivais da Igreja Ortodoxa da Etiópia reconciliaram-se.
“A cisão da Igreja ortodoxa etíope Tewahedo data de 1991. Naquela época, o governo militar provisório da Etiópia socialista, instalado em 1974 após a derrubada de Hailé Selassié, cessa abruptamente, dando lugar à Frente democrática revolucionária dos povos etíopes. O patriarca Abuna Merkorios abdica e vai estabelecer-se no estrangeiro, nos Estados Unidos, com vários bispos. E um novo patriarca é eleito na Etiópia, Abuna Paulos. Afirmando que a sua abdicação ocorreu sob coação, o antigo patriarca continua a se considerar o único legítimo da Igreja etíope”, explica La Croix.
Em julho de 2018, o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed viaja aos Estados Unidos. Ele anuncia um acordo entre a Igreja Ortodoxa oficial liderada pelo Patriarca Abuna Mathias (nomeado em 2013) e as comunidades cristãs da diáspora, fiéis ao Patriarca Abuna Merkorios.
“O acordo concluído nesta ocasião prevê que o Abuna Merkorios retornará à Etiópia e retomará as suas funções como patriarca” – informou OCP Media Network, um site dedicado às várias Igrejas Ortodoxas. “O Abuna Mathias, que até agora era o único patriarca reconhecido pelo poder etíope, continuará a manter esse papel e será responsável por conduzir a Igreja realizando as tarefas administrativas. (…) Enquanto os dois patriarcas estiverem vivos, eles serão considerados em pé de igualdade pela Igreja, prevê também o acordo, que especifica que a partir deste dia não há senão uma Igreja unificada” – esclarece Jeune Afrique.
10 fotos de Minasse Wondimu Hailu, tomadas em 27 de setembro de 2018 durante o Mesqel, ilustram este tema. Esta festa, inscrita no Patrimônio cultural imaterial da UNESCO, comemora a descoberta, 326 anos depois de Jesus Cristo, da cruz sobre a qual ele teria sido crucificado.
01/10 – O Patriarca Abuna Mathias, usando a sua veste cerimonial bordada a ouro, celebrou o Mesqel em 27 setembro de 2018 © MINASSE Hailu Wondimu / ANADOLU AGENCY / AFP
02/10 – Segundo a tradição, a Verdadeira Cruz teria sido descoberta pela Imperatriz Helena em Jerusalém © Minasse Wondimu Hailu / ANADOLU AGENCY / AFP
03/10 – Uma parte da Verdadeira Cruz teria sido guardada em Amba Geshen, um monte que tem ele mesmo a forma de cruz © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
04/10 – Homens marcam o ritmo das danças e acompanham-nas com os qabaro, tambores que podem pesar até 15 quilos © MINASSE Hailu Wondimu / ANADOLU AGENCY / AFP.
05/10 – Mulheres tocam música envoltas num chamma, o xale branco tradicional. © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
06/10 – Os däbtäras são cantores. Eles batem palmas e cantam longas melopeias. © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
07/10 – Os rituais são organizados em torno de retratos de Jesus Cristo e dos Doze Apóstolos © Minasse Wondimu Hailu / ANADOLU AGÊNCIA / AFP
08/10 – Fiéis se reúnem e rezam vestidos com véus coloridos tradicionais © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
09/10 – Os sacerdotes leem os textos sagrados © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
10/10 – Mesqel também marca a mudança de estação. O dia 27 de setembro corresponde ao dia 17 Meskerem do calendário etíope, que marca o fim da estação chuvosa. © Minasse Wondimu Hailu / AGÊNCIA ANADOLU / AFP
Laurent Filippi
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