Um país que deixa sua memória histórica arder corre o perigo de queimar com ela seu presente e seu futuro
O incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio, e com ele 200 anos da história do Brasil, foi mais do que um incêndio.
As chamas são o triste símbolo de um país que abandona a espinha dorsal da ciência, a da cultura e da arte para privilegiar uma política mesquinha de pequenos interesses pessoais dos que deveriam ser os guardiões da maior riqueza de um país, que é a memória da sua cultura.
Não é por caso que,
- ainda neste ano, nem um só ministro do Governo tenha participado das festividades do bicentenário do Museu Nacional no Rio.
- Não é por caso que todos os mecanismos de proteção do museu estavam abandonados,
- e que os professores tivessem que pagar a passagem de ônibus das faxineiras do museu, que já havia sido abandonado à própria sorte.
As imagens dessas labaredas queimando o coração cultural e histórico do Brasil, que estão correndo o mundo,
- poderiam ser um triste presságio,
- às vésperas de uma eleição presidencial que se prenuncia incendiária e incerta para este país.
Quem estranha os surtos autoritários e direitistas que estamos observando
- deveria analisar o Museu Nacional em chamas,
- pela incúria de quem deveria ter cuidado de preservar sua riqueza histórica.
Poderia assim
- entender melhor o voto de raiva de milhões de brasileiros
- desiludidos com um sistema democrático que agoniza a partir da morte de seus valores culturais.
Um país que deixa sua memória histórica arder
- corre o perigo de queimar com ela seu presente e seu futuro,
- comprometidos pelo abandono de seus melhores valores,
- que agonizam asfixiados por uma classe política
- incapaz de entender que não existem saltos na formação das novas gerações.
Elas se constroem, se aperfeiçoam e se modernizam a partir dessa memória do passado.
Fachada do Palácio da Quinta da Boa Vista, prédio do Museu Nacional (Foto: Alexandre Macieira | Riotur)
Sem memória,
- os jovens que deverão criar o novo Brasil
- sem romper o cordão umbilical com o que seus antepassados lhes deixaram
- acabarão como náufragos sem bússola,
- num mar já muito agitado pela incerteza e pelas nuvens negras antidemocráticas e obscurantistas que o ameaçam.
Sem esperança, então?
Não. Brasil é maior que seus melhores museus, e todos os povos aprenderam na escola sobre seus fracassos e derrotas.
- Que, das cinzas tristes e amargas do Museu Nacional do Rio,
- um novo Brasil possa ressuscitar como a ave fênix da mitologia.
Um Brasil que
- só será melhor e mais justo
- se a cultura e a ciência chegarem a todos,
- em vez de serem apenas patrimônio dos privilegiados.
Que as chamas do Museu Nacional, que hoje entristecem o Brasil e o mundo, sirvam de alarme e de exame de consciência na hora de digitar, dentro de algumas semanas, o voto na urna eletrônica, para não escolher de novo os que têm sido incapazes de preservar a rica memória deste país que hoje parece, como o museu que ardeu, abandonado à própria sorte.
Descaso que entristece.