A reportagem é de Michael Sean Winters, jornalista, publicado por National Catholic Reporter, 26-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Viganò está certamente correto em dizer que o cardeal Angelo Sodano, durante muito tempo secretário de estado do papa João Paulo II, era patrono do ex-cardeal Theodore McCarrick. Stone reconheceu que o assassinato ocorreu em Dallas. Mas por que Viganò não menciona o papel fundamental desempenhado pelo cardeal Stanislaus Dsiwisz na proteção de McCarrick?
Viganò alega que o papa Francisco suspendeu as sanções contra McCarrick que foram impostas pelo papa Bento XVI. De fato, a manchete da história de Edward Pentin que deu a notícia desse testemunho diz: “O ex-núncio acusa o papa Franciscode não agir contra o abuso de McCarrick“.
Mas, Francisco agiu sim. Ele é quem removeu McCarrick do ministério em junho.
O foco central deste testemunho é a afirmação de que Bento XVI impôs sanções contra McCarrick:
- “o cardeal deveria deixar o seminário onde ele estava morando,
- estava proibido de celebrar [a missa] em público,
- de participar de reuniões públicas,
- de dar palestras,
- viajar,
- com a obrigação de se dedicar a uma vida de oração e penitência”,
escreve Viganò.
Durante o papado de Bento XVI, com meus próprios olhos, testemunhei McCarrick
- celebrando a missa em público,
- participando de reuniões,
- viagens, etc.
Mais importante ainda, o mesmo aconteceu com o papa Bento XVI!
Se Bento impôs essas penalidades, ele certamente não as aplicou. Ele
- continuou a receber McCarrick com o resto da Fundação Papal,
- continuou a permitir que ele celebrasse a missa publicamente no Vaticano,
- até mesmo concelebrando com Bento XVI em eventos como consistórios.
Mas, como Viganò conta, é tudo culpa do papa Francisco.
Viganò
- é mais do que um pouco obcecado com a homossexualidade
- e cita o nome de prelados que ele acusa de apoiar os esforços de “subverter a doutrina católica sobre a homossexualidade”.
O cineasta Stone estava obcecado com uma colina coberta por grama.
Nos meus dias de seminário,
- quando um dos seminaristas dava sinais desse tipo de obsessão,
- fazendo declarações exaltadas sobre a homossexualidade, suas fontes e seus efeitos,
- ignorando os dados científicos e psicológicos emergentes,
- o resto de nós olhava um para o outro e alguém dizia algo como:
- “Eu gostaria de saber com quem ela gostaria de dançar”.
Algo semelhante está acontecendo durante todo esse verão.
- Bispos e arcebispos falam sobre pessoas gays com tanto ódio,
- que você se pergunta como um ministro do Evangelho poderia falar tão maldosamente sobre outros seres humanos,
- mas então passa por sua cabeça: eles não estão falando sobre outros seres humanos.
- E você tem que se perguntar se o que você está vendo é uma manifestação de auto-ódio.
Infelizmente, a rede de desinformação de Viganò deixará sua marca. No meio de um tumulto de eventos, ninguém vai parar para fazer perguntas básicas e até mesmo os jornalistas podem esquecer-se de realizar tarefas básicas, como buscar por confirmação ou analisar as perguntas que surgem de um texto como o de Viganò.
Aqui estão algumas das minhas perguntas:
- Viganò diz que ele deve desabafar sua consciência agora.
- Porque agora?
- Se ele se sentia tão perturbado pela imundície quanto afirma, por que ele não disse nada publicamente ou, pelo menos, à conferência dos bispos?
Lembro-me de alguns anos atrás, em uma reunião da conferência dos bispos, sentado do lado de fora do salão de festas em Baltimore conversando com um monsenhor da nunciatura.
- Ele estava esperando por Viganò, que estava na sessão executiva da reunião dos bispos.
- Por que ele não disse nada naquele momento?
Se, como ele afirma, McCarrick teve uma influência tão grande em Francisco,
- como ele explica as brigas de McCarrick com os bispos argentinos sobre o padre Carlos Buela e o Instituto do Verbo Encarnado?
- Quando os bispos argentinos, sob a liderança do então cardeal Bergoglio, se recusaram a ordenar os seminaristas do Verbo Encarnado, McCarrick interveio para fazê-lo.
McCarrick não teve nada a ver com a escolha do bispo Blase Cupich para se tornar arcebispo de Chicago, nem com o arcebispo Joseph Tobin indo para Newark. É verdade que essas principais sedes foram preenchidas sem o consentimento ou opinião do núncio, o que diz apenas que Francisco conseguiu reconhecer o quão doente ele era antes que o resto de nós o reconhecesse. Meu cachorro, Ambrose, tem mais influência sobre o papa Francisco do que McCarrick teve.
Viganò chega até a recrutar o falecido padre jesuíta Bob Drinan para sua conspiração, bem como os signatários da declaração da Land O’Lakes de 1967 sobre o ensino superior católico. Sério? Lembro-me de uma velha piada de Joan Rivers sobre o fato de que um OVNI nunca aterrissou em Harvard, Yale ou Stanford. São sempre três broncos em uma pick-up bebendo cerveja: “Eu vi! Estava ali!”. Church Militant, Cardinal Newman Society, LifeSiteNews, esses são os bêbados da igreja e ficou claro que, por algum tempo, Viganò concordou com esses personagens.
Lembram como ele tentou arruinar uma viagem anterior do papa?
Foi ele quem, em 2015,
- levou Kim Davis, a funcionária do condado de Kentucky que se recusou a emitir certidões de casamento para casais do mesmo sexo, a se encontrar com Francisco
- e falsamente a apresentou como defensora da liberdade religiosa. Na verdade, Davis foi mandada para a prisão porque tentou impor suas opiniões religiosas aos outros.
E, como meu colega Joshua McElwee apontou,
- sabemos o quanto Viganò se preocupa com as vítimas do abuso sexual do clero.
- Em Minnesota, Viganò encorajou o bispo auxiliar Lee Piche a destruir documentos relacionados à investigação do arcebispo John Nienstedt.
Viganò é um ex-empregado insatisfeito. Pessoas assim estão sempre com um pouco de raiva. Eles também costumam ser pouco confiáveis. Ele sempre foi um excêntrico. Mas não se engane:
- este é um ataque coordenado contra o papa Francisco.
- Uma conspiração está em andamento
- e se os bispos dos EUA, como um corpo, não defenderem o Santo Padre nas próximas 24 horas,
- estaremos nos encaminhando para uma cisão muito antes da reunião dos bispos em novembro.
Os inimigos de Francisco declararam guerra.
Nota de IHU On-Line: Na viagem de retorno de Dublin, o Papa Francisco se referiu ao testemunho de Viganò, afirmando:
“Li na manhã de hoje esse comunicado de Viganò. Digo sinceramente isto: leiam-no atentamente e tirem suas conclusões pessoais. Não direi nenhuma palavra sobre isto. Creio que o documento fala por si mesmo. Vocês têm a capacidade jornalística suficiente, com sua maturidade profissional, para tirar suas conclusões”.
A íntegra da entrevista do Papa Francisco pode ser vista, em italiano, aqui.
Michael Sean Winters
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Hola!
Tras el pedido de renuncia a Francisco de parte de un ex nuncio
Rumores de golpe contra el Papa
La carta del ex embajador vaticano en Estados Unidos, Carlo Maria Viganó, a Francisco acusándolo de encubrir a un cardenal, fue interpretado como un intento de golpe de los sectores más conservadores de la Iglesia.
https://www.pagina12.com.ar/138399-rumores-de-golpe-contra-el-papa
¿Quién es el Arzobispo Viganó?
http://www.atrio.org/2018/08/quien-es/comment-page-1/#comment-292099
É lamentável que em pleno século XXI ideis ultra conservadores, discriminatórias, racistas e anti humanas estejam prevalecendo na sociedade, na política e até em religiões como o Islamismo e Cristianismo incluindo o Catolicismo. Esse Viganò faz parte desse movimento anti direitos das minorias e muda seus pensamentos conforme os ventos sopram como podemos ver em mais esse artigo:
https://www.dn.pt/mundo/interior/escondido-num-local-secreto-o-arcebispo-afinal-elogiou-o-cardeal-9777999.html