Xulio Ríos – 28 Julho 2018
Foto: – Xi Jinping visita o Congo / Instituto Internacional de Macau
“Ano após ano, a África é sempre o primeiro destino escolhido pelo ministério das relações exteriores para iniciar suas viagens internacionais.
A África não é um assunto menor na agenda chinesa”, escreve Xulio Ríos, diretor do Observatório da Política Chinesa, Galícia, Espanha, em artigo publicado por Rebelión, 25-07-2018.
A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Complemento da participação no encontro dos BRICS, em Johannesburgo (que tem a Turquia como país convidado), o giro do presidente chinês Xi Jinping pela África adquire uma relevância particular em vista, sobretudo, da próxima cúpula China-África que acontecerá em setembro, em Pequim.
Enquanto Trump não dá importância ao segundo continente mais povoado do mundo, Xi parece decidido a reforçar
- não apenas os vínculos econômicos (já é o primeiro sócio comercial da África) e políticos com o continente,
- mas também os militares e de segurança,
o que acrescentará profundidade a uma relação de longa data.
De fato, a China já supera os Estados Unidos na venda de armas à África e neste mês recebeu dezenas de oficiais militares para participar do primeiro foro de defesa neste nível. No ano passado,
- abriu sua primeira base militar no estrangeiro, em Djibuti, no chifre da África,
- onde promove, além disso, a maior zona de livre comércio do continente.
Até agora, a China cuidava da presença de seus soldados (mais de 2.000) sob a bandeira das Nações Unidas. Agora, os vínculos militares se diversificarão e ampliarão. É a resposta chinesa a um aumento significativo da presença de tropas especiais estadunidenses no continente, empregadas ao menos em nove países (Chade, Mauritânia, Níger, Mali, Camarões, Tunísia, Quênia, Líbia e Somália).
Com a criação do AFRICOM, em 2007, o número de países africanos que contam com algum tipo de presença dos Estados Unidos não parou de crescer e o total de efetivos empregados se aproxima de 10.000 soldados. Com o argumento de enfrentar a ameaça jihadista, o número de forças especiais na África passou de 1% do total a 16%, em apenas oito anos.
Não apenas comércio
Esta é a primeira viagem de Xi ao estrangeiro, desde que foi eleito em março para um segundo mandato presidencial. Em sua agenda, destaca-se a Iniciativa da Faixa e Rota, que abunda na contribuição de uma infraestrutura certamente muito necessária para o continente mais esquecido, apesar das críticas sobre o endividamento que pode aparelhar.
- Ligações ferroviárias e rodoviárias,
- portos,
- parques industriais,
- mas também hospitais,
- estádios, teatros e museus,
todos construídos a pedido da China, estão formando uma nova realidade africana.
Desde 2016, a China é a primeira investidora estrangeira no continente. Entre 2000 e 2015, o governo, os bancos e os empreiteiros da China teriam emprestado mais de 94 bilhões de dólares à região. A dívida pública na África subsaariana passou de 34% do PIB, em 2013, a uma estimativa de 53%, em 2017, segundo fontes do FMI.
A compensação para a China
- é inseparável de um fornecimento de recursos naturais (petróleo, minerais, madeira, marfim, etc.),
- nem sempre respeitoso ao meio ambiente.
Não obstante, esta dimensão, como no interior do país, vai ganhando peso em suas políticas. Assim, manifestou-se na recente conferência sobre o trabalho diplomático, presidida pelo próprio líder chinês.
Em uma ou outra comitiva, praticamente a totalidade de líderes africanos visitou Pequim no último quinquênio. Recentemente, os presidentes das duas câmaras chinesas, Wang Yang e Li Zhanshu, também visitaram a África. Ano após ano, a África é sempre o primeiro destino escolhido pelo ministério das relações exteriores para iniciar suas viagens internacionais. A África não é um assunto menor na agenda chinesa.
A turnê de Xi, a quarta desde que assumiu em 2013, tem paradas em
- Senegal,
- Ruanda
- e África do Sul,
- mais uma escala em Maurício.
Em seu balanço, cabe imaginar o reflexo claro de um aumento da confiança e influência políticas, sustentadas nas raízes das demais variáveis. Em setembro próximo, na cúpula de Pequim com a África, só faltará eSwatini, o único país da região que resiste em romper os laços com Taipé.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/581270-a-relevancia-do-giro-do-presidente-chines-xi-jiping-pela-africa
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