A chanceler alemã deixa claro numa longa coletiva de imprensa que a fissura aberta entre a Europa e Trump está longe de ser superada
… “[as relações com os EUA] estão sob pressão”, mas afirma que é necessário continuar cultivando uma relação “crucial”com os ainda aliados.
“O que consideramos natural durante muitas décadas, que os EUA se considerem o poder regulador do mundo, para bem ou para mal, não está assegurado no futuro”, disse Merkel.
As perguntas mais incisivas na coletiva não foram capazes de alterar a fleuma da eterna chanceler, que completou 64 anos nesta semana. Escorregadia, Merkel respondeu a tudo, sem responder a quase nada, também como quase sempre.
A governante reconheceu que
- “[as relações com os EUA] estão sob pressão”,
- mas que é necessário continuar cultivando uma relação “crucial” com os ainda aliados.
A chanceler insistiu durante suas intervenções que as relações internacionais atravessam um ponto de inflexão, que dará lugar a um novo equilíbrio de poderes, ainda incerto.
- “O que consideramos natural durante muitas décadas,
- que os EUA se considerem o poder regulador do mundo, para bem ou para mal,
- não está assegurado no futuro”, disse Merkel.
“A ordem mundial está mudando, e há muito por fazer”,acrescentou a chanceler, após mencionar a crescente assertividade da China e da Rússia. Os novos equilíbrios situam a Europa perante novos desafios, analisou.
- “A União Europeia se encontra em pleno processo de transformação. […]
- O bloco reconhece a seriedade da situação,
- mas não está claro até que ponto seremos capazes de fazer frente aos desafios com a rapidez necessária”.
A líder da maior economia da Europa falou também dos planos norte-americanos para aplicar tarifas a automóveis europeus, uma medida que afetaria fortemente os fabricantes do seu país. Merkel considerou a medida “uma verdadeira ameaça à prosperidade de muitos no mundo”, num momento em que “assistimos a uma situação muito grave em termos comerciais”.
- A guerra comercial com Berlim
- e seu superávit comercial com os EUA,
- além da deficiente contribuição militar alemã à OTAN
- são os principais pontos de atrito entre as duas maiores economias ocidentais.
O presidente norte-americano, Donald Trump,
- redobrou seus ataques à Alemanha nos últimos dias,
- apontando-a como “prisioneira” da Rússia por causa do acordo energético entre Berlim e Moscou, materializado no gasoduto Nordstream II.
Merkel novamente ignorou os ataques e, perguntada sobre as causas da hostilidade de Trump, limitou-se a responder que “certamente tem algo a ver com nosso tamanho econômico”.
Junto da volatilidade internacional, a crise interna que fez o Governo alemão tremer foi o tema que ocupou a maior parte do encontro de Merkel com os jornalistas.
- Os conservadores bávaros (CSU), sócios do Executivo, disputam suas eleições regionais em outubro,
- e a extrema direita (Afd) ameaça sua hegemonia política.
A ansiedade eleitoral
- endureceu as posições da CSU, sobretudo em matéria migratória,
- a ponto de provocar um enfrentamento aberto entre a chanceler e seu ministro do Interior, Horst Seehofer, líder dos conservadores bávaros.
Tensão entre Trump e Merkell aumenta / Sputnik Brasil
Merkel e Seehofer fingiram fechar suas feridas com um acordo de difícil execução, mas que pelo menos serviu para virar a página e limitar, ao menos por enquanto, a crise no Governo.
Na sexta-feira, Merkel reconheceu que a disputa migratória com o ministro do Interior adquiriu “um tom muito duro, e eu dou muita importância à linguagem”. A chanceler acrescentou, como aviso, que se preocupa com a “erosão da linguagem”, e argumentou que brigas desse tipo geram rompimentos políticos também entre os cidadãos. Mas Merkel salientou que
- o confronto se deveu à sua tentativa de frear a aplicação de restrições unilaterais à migração,
- à margem do consenso com os sócios europeus,
- e que para ela a busca de soluções no marco da União Europeia é uma questão “central”.
Durante uma hora e meia de encontro, Merkel foi perguntada sobre tudo, inclusive se estava “esgotada”,e também sobre suas férias de verão. A sala inteira caiu na gargalhada quando uma jornalista perguntou com quem a chanceler preferiria sair de viagem: com Trump, Putin ou Seehofer. Sem fazer drama, mas valendo-se da sua conhecida ironia, respondeu: “Férias são férias”.
Pensar em demitir? “Não, não, não”
Embora o mundo atravesse um período de volatilidade extrema, dentro das fronteiras alemãs Merkel continua representando, para muitos cidadãos,
- um pilar sólido,
- difícil de derrubar
- e capaz de garantir a estabilidade.
Tem sido assim mesmo nas últimas semanas, quando um desafio lançado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, o líder bávaro que exigia endurecer a política migratória, fez o Governo de Berlim cambalear por alguns instantes. Depois de 13 anos à frente do gabinete, Merkel esclareceu que nem pensou nem pensa em jogar a toalha.
“Não, não, não”, assegurou a chanceler, quando perguntada se cogitou renunciar diante do recente ultimato migratório bávaro.
“Quando estou imersa em um conflito importante, tenho que concentrar todas as minhas energias nele”, indicou impassível, disposta a terminar seu quarto mandato como chanceler alemã.
Ana Carbajosa
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/20/internacional/1532105096_996786.html
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