• Início
  • Quem Somos
    • Diretoria Executiva Nacional e Conselhos
    • Encontros Nacionais
    • FOTOS – FORTALEZA – 2012
    • Nossa História
    • Manifesto
    • Primeiro Boletim
    • Primeiro Encontro
    • Primeiros Encontros
  • Estatuto
  • Contatos
  • Jornal Rumos Arquivo
 
 
  • Jornal Rumos
  • Fotos & Vídeos
  • Virtudes
    • Biotecnologia
    • bondade
    • Carinho-Ternura
    • Cuidado
    • Drogas
    • Espiritualidade
    • Humorismo
    • Justiça
    • Saúde
    • Solidariedade
    • Vida
  • Notícias
    • Cultura
    • Entrevistas
    • Curiosidades
    • Educação
    • Meio Ambiente
    • Medicina
    • Personalidades marcantes
    • Resenhas de Livros
    • Tecnologia
  • Brasil
    • Corrupção
    • Corrupção na Petrobras
    • Ditadura
    • Ética e Bom Senso
    • Imprensa Golpista
    • Mídia alienante
    • Protestos de rua
    • Tortura na Ditadura
    • Trabalho Escravo
  • Igreja
    • CEBs
    • Celibato
    • Clero conservador
    • Corrupção na Igreja
    • Cristãos Perseguidos
    • Diálogo Ecumênico
    • Diálogo inter-religioso
    • Igreja a Caminho
    • Fé e Ciência
  • Controvérsias
    • Sexo e Gênero
  • Política
    • Capitalismo-Mercado
    • Direita europeia
    • Direitos humanos
    • distribuição de renda
    • Economia
    • Fé e Política
    • Geopolítica
    • Genocídio
    • Guerra
    • IsraelXPalestina
    • Igreja e Política
    • Médio Oriente conturbado
    • Mundo em mudança
    • Paz e Guerra
  • Artigos
    • A Palavra de Francisco
    • caminho de paz
    • casados segunda vez
    • Ecumenismo
    • Esquerda-Direita
    • Francisco
    • Fundamentalismos
    • Gênero
    • matrimônio
    • Mídia Democrática
    • Segurança Alimentar
    • Sexualidade e Família
    • Sínodo da Família
    • Soberania Alimentar
    • Testemunhos
    • Tolerância e Intolerância
    • Violência
  • Religião
    • Igrejas
    • Igreja no Brasil
    • Igreja perseguida
    • Jesus histórico
    • Mulheres e Igreja
    • Religiões
    • Teologia
    • Teologias da Libertação
    • Vaticano em mudança
 
Associação Rumos

Associação Rumos

Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados

ComentáriosPor EmailPosts
« Uma ‘escrava’ do século XXI em Washington  
Início
  Diários de viagem revelam racismo e xenofobia de Einstein »

O “Dispositivo-Ratzinger”. Uma das raízes da atual paralisia eclesial

ratzcongar

 

Andrea Grillo – 13/06/2018 – Foto: Ratzinger e Yves Congar

Publicado em 10 de junho de 2018 no blog: Come se non

Tradução: Orlando Almeida

“Ad discendum item necessario dupliciter ducimur, auctoritate atque ratione. Tempore auctoritas, re autem ratio prior est”

“Para aprender, também somos conduzidos, necessariamente, de duas maneiras: pela autoridade e pela razão. Quanto ao tempo, a autoridade; quanto à realidade, porém, a razão é mais importante” (NdR)  (Aug., De ord., II, IX, 26 [CCL, XXIX, 121, 2-122, 4].

 

Neste texto eu gostaria de analisar com alguma precisão um “modelo de argumentação”, que desde os anos 70 se difundiu no discurso eclesial católico e que levou, gradualmente, a uma verdadeira “paralisia” da orientação de reforma e de processos de atualização, que o Concílio Vaticano II reintroduziu providencialmente na vida da Igreja.

Já anteriormente, em outros artigos, tratei deste fenômeno, identificando uma espécie de “estilo magisterial”, que se baseava numa estratégia paradoxal: negando a sua  própria  autoridade, conserva  toda a sua autoridade.  (cf. “Igreja ‘em saída’ e exercício da autoridade: para além de um ‘lugar-comum’ do magistério recente”)..  Retomo brevemente o sentido desse primeiro raciocínio.

 

1. O problema da autoridade

No texto citado eu observava dois anos atrás que, no debate eclesial desencadeado pelas palavras proféticas do papa Francisco sobre a “Igreja em saída” e sobre a “superação da autorreferencialidade” , ainda não tinha sido claramente entendido que esta prioridade, que o papa tinha justamente enunciado desde os primeiros dias de seu ministério – e que já estava claramente presente no seu texto apresentado à Congregação dos Cardeais reunidos no conclave – exigia uma profunda revisão do estilo com que a Igreja pensa e age em relação ao tema do “poder” e da “autoridade“.

Para poder “sair da auto-referencialidade” e tornar-se verdadeiramente “hetero-referencial” – isto é, para não pôr o centro em si mesma , mas o Outro e o outro –  a Igreja deve, antes de tudo, reconhecer que está  investida de uma autoridade real e eficaz.

Em outras palavras, ela deve ser capaz de

  • confiar na possibilidade de intervir com autoridade sobre a própria doutrina e disciplina – sobre o que pensa de si mesma e o que faz de si mesma –
  • sem ceder à tentação de “impedir a si mesma um repensamento”,
  • quem sabe, em nome da fidelidade à tradição.

 

Ratzinger, o homem que, com João Paulo II, teve a ousadia de querer bloquear o Concílio Vaticano II e de parar a Igreja no passado. Foto IHU/Flickr

 

Se a Igreja pensa que a única maneira de ser fiel ao Evangelho seja continuar em tudo e por tudo com antes – seja doutrinariamente seja disciplinarmente – concluirá de imediato que deve permanecer absolutamente imóvel para ser plenamente ela mesma. Fará do imobilismo a sua obsessão. A esta tentação Francisco quis responder com três anos de uma palavra profética, que quer antes de tudo persuadir a Igreja e o mundo de duas coisas:

– que a fidelidade é mediada pelo movimento, pela conversão, pela saída para fora, e não pela paralização, pelo medo e pelo fechar-se dentro dos muros;

– que para mover-se é preciso reconhecer-se a autoridade de estar na história da Igreja e da salvação de modo participante e ativo, e não como espectadores mudos e passivos ou como um simples “notários”.

Mas esta consideração encontra mais de uma resistência

  • não somente na inevitável inércia do modelo a ser superado,
  • mas também em alguns “lugares comuns”,
  • entre os quais eu gostaria de considerar aquele que se pode expressar como a redução da autoridade à “renúncia da autoridade“.

Trata-se de um lugar comum muito fascinante, que às vezes assume considerável relevância na experiência eclesial e que o magistério pode e deve utilizar em passagens complexas. Traduz-se formalmente numa declaração de “non possumus”. Não podemos.

Este é um dos pontos-chaves do “magistério negativo” que a tradição antiga, medieval e moderna cultivou com atenção e com cuidado. Trata-se, em última análise, de uma “autolimitação do magistério”. Mas essa auto-limitação que, de per si, é para garantia de “outro”, e que portanto deveria conter e dificultar as formas de auto-referencialidade eclesial, entrou com muita força na experiência eclesial das últimas décadas, especialmente a partir do final dos anos 70 .

 

2. O “dispositivo de bloqueio”

Agora gostaria de identificar com maior clareza o coração de tal argumentação num raciocínio artificioso – que sob certos  aspectos parece uma espécie de “sofisma” – e que não é difícil de atribuir a J. Ratzinger, numa parábola de tempo de pelo menos 35 anos, que vai de 1977 a 2012.

Trata-se de um “dispositivo teórico” que produz, por meio de uma indiscutível sutileza retórica, um resultado predeterminado:

 bloquear qualquer mudança e fazer prevalecer, emocionalmente antes que conceitualmente, primado do antigo sobre o moderno. É um “dispositivo de bloqueio” que trava emocionalmente, “por apego”, qualquer projeto de reforma.

Antes de analisar as principais etapas deste interessante fenômeno que, por brevidade, denominarei “dispositivo-Ratzinger”, gostaria de esclarecer melhor a peculiaridade da minha abordagem:

a) A contribuição deste “modelo de pensamento” é muito significativa porque diz respeito,

  • primeiro ao Ratzinger Arcebispo,
  • depois ao Ratzinger Prefeito,
  • e por fim ao Razinger papa: ou seja, é o resultado não do “primeiro Ratzinger”, livre de compromissos pastorais, mas do “segundo e do último Ratzinger”, envolvido responsabilidades crescentes a nível diocesano e, depois, muito rapidamente, a nível de Igreja universal.

b) O cerne da argumentação é o resultado

  • não só de uma competência teológica inegável,
  • mas também da abdicação da razão, de uma forma bastante acentuada,
  • para dar espaço a um “afeto”, ou, melhor ainda, a um “attachement”, a um “apego” irrenunciável e assumido como auctoritas indiscutível:

a ratio dá lugar a uma auctoritas afetivamente sobredeterminada, e por isso incontrolável.

c) É por tal razão que ouso atribuir ao argumento a qualificação de “dispositivo”: ele

  • não explica racionalmente,
  • mas valida retoricamente
  • e impõe juridicamente uma solução que não tem bases sólidas a não ser num afeto.

Isso causa o efeito de fazer “evaporar” qualquer instância legítima de mudança, que a transforma imediatamente, e eu diria quase violentamente, em contradição com os afetos e, portanto, numa negação e em ameaça à tradição.

d) Funciona, por fim ou talvez antes de tudo, como

  • suporte teórico perfeito,
  • quase como um axioma indiscutível,
  • para confirmar um sistema resistente e imóvel da Igreja,
  • perante um mundo ameaçador e traiçoeiro, ao qual a Igreja não deve se dobrar.

Recuperando temas e motivações do  antimodernismo de um século atrás, o “dispositivo” funciona perfeitamente como “bloqueio” contra um Concílio Vaticano II

  • percebido cada vez menos como um recurso
  • e sempre mais como uma “deriva”.

Neste artigo gostaria de mostrar este “dispositivo-Ratzinger” em 4 versões, historicamente sucessivas, quase como se fossem “ajustes” cada vez mais  finos e agudos do mesmo. A apresentação tratará, por ordem, de 4 documentos eclesiais inteiramente característicos desta abordagem:

  • a “Carta sobre a primeira confissão” do Arcebispo de Munique , de 1977,
  • a carta apostólica Ordinatio sacerdotalis de 1994;
  • a Instrução  Liturgiam authenticam ,  de 2001,
  • o motu proprio Summorum pontificum, , de 2007,
  • às quais deve ser acrescentada a “carta aos bispos alemães” sobre a questão do “pro multis” de 2012.

No cerne de cada um destes documentos, num período de 35 anos, encontra-se o mesmo mecanismo argumentativo, claramente reconhecível,

  • que atrai e distrai,
  • que é límpido e também obscuro,
  • no qual o apego e a razão se fundem e se confundem.

Uma breve busca

  • permitirá trazer à luz o ponto cego,
  • mas também exporá a dívida que todos nós temos
  • para com esta maneira de pensar e de organizar a reflexão sobre a tradição eclesial
  • e da qual, se quisermos reler significativamente o Concílio Vaticano II, teremos de nos livrar mais cedo ou mais tarde.

 

3. Quatro exemplos do “dispositivo”

3.1. Nas premissas já está insinuada a conclusão: Carta sobre a primeira confissão

O primeiro “lugar doutrinário” onde é posto em prática o “dispositivo Ratzinger” é a relação entre a primeira confissão e a primeira comunhão, que o então arcebispo de Colônia reorienta “contra” a mudança feita pelo seu antecessor, o cardeal J. Doepfner, que havia mudado a primeira confissão para depois da primeira comunhão.

A pretensão é de impedir um “uso pedagógico” da tradição, mas a teologia que deveria guiar a nova orientação identifica-se simplesmente com a “evidência afetiva” do princípio da autoridade.

No texto da carta pastoral “Primeira confissão e primeira comunhão das crianças” (1977) Ratzinger

  • chega a inverter o significado da tradição,
  • para garantir a sobrevivência da prática mais tradicional (para ele),
  • afirmando a primazia de um sacramento de cura sobre um sacramento de iniciação, mesmo em sério contraste com o Concílio de Trento e com a diferença “de dignidade” que esse concílio exige que seja reconhecida entre os sacramentos.

De fato, ele afirma: “somente com a confissão pessoal se tornam verdadeiras as invocações de perdão da liturgia eucarística e esta liturgia eucarística da Igreja conserva a sua grande profundidade pessoal que por outro lado é o pressuposto da verdadeira comunhão” (9).

Ele chega assim a subordinar a comunhão eucarística à confissão pessoal, como regra de abordagem original ao sentido da própria comunhão, com uma evidente e grave distorção e em séria tensão com a tradição.

Tudo isso, além do mais, tendo por argumento uma motivação realmente surpreendente:

  • o novo Arcebispo pede aos operadores da pastoral que “deixem suas ideias mais caras para o bem da comunidade”,
  • mas, na verdade, com esta carta, ele impõe suas próprias ideias mais caras – aquelas que para ele são afetivamente mais urgentes – em detrimento do caminho de amadurecimento da comunidade.

Utilizar a Didaché como texto-chave  para afirmar a primazia da confissão individual sobre a comunhão eucarística

  • é uma argumentação sem fundamento
  • e um uso da “auctoritas” totalmente anacrônico
  • e carente de confirmação histórica.

Mas aqui, pela primeira vez, aparece o “dispositivo Ratzinger”: argumentando sem verdadeiro rigor, e de uma maneira puramente afetiva, ele obtém apenas uma “conformação autoritária” do comportamento, sem motivação teológica consistente.

 

3.2. Documentos não infalíveis e práxis infalíveis: a explicação de ‘Ordinatio Sacerdotalis’

Muitos anos depois, em 1994, com Ordinatio sacerdotalis –  da qual  Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi o grande inspirador –  sobre o tema da “ordenação das mulheres ao sacerdócio”, retoma com força este estilo, declarando que “a Igreja não tem, de modo algum, o poder de conferir às mulheres a ordenação sacerdotal”.

  • Com uma declaração de “não autoridade”, e da qual mais tarde ele mesmo esclarece a natureza “não infalível”,
  • pretende-se encerrar a questão, sem excluir que “outras ordenações” sejam possíveis.

A negação da autoridade determina a confirmação da forma clássica do poder eclesial e até mesmo pretende reconhecer, não infalivelmente, uma tradição infalível.

Desloca a infalibilidade do documento para a tradição, com um salto mortal argumentativo muito arriscado.

  • Sem assumir qualquer nova autoridade,
  • reconhece-se autoridade somente ao passado,
  • sem qualquer tematização das novidades culturais, antropológicas e eclesiais que o século passado trouxera,
  • como se a história não existisse.

No coração do documento e da sua subsequente explicação, aparece claramente, e de novo, o “dispositivo Ratzinger”:

  • afeição,
  • apego
  • e autoridade substituem a razão teológica.
  • Sentimento e poder, no lugar da razão.

Aliás, a razão deveria, ‘a posteriori’, limitar-se a justificar o sentimento de apego e o princípio de autoridade.

 

3.3 Para contradizer a experiência: tradução literal, mesmo sem destinatário, na LA e na carta sobre “pro multis”

Alguns anos depois, em 2001, Ratzinger foi o inspirador da Quinta Instrução sobre a Reforma litúrgica Liturgiam authenticam, a partir da qual surgia

  • uma nova versão do “dispositivo de bloqueio”
  • com a afirmação absoluta do “primado do latim” sobre as “línguas vernáculas”.

O efeito desta teoria carente de qualquer base histórica – em que se chega a estabelecer a irrelevância da língua dos destinatários e a pretensão de “transliterar as figuras retóricas latinas” – foi duplo:

  • a paralisia da relação entre a periferia e o centro na gestão das traduções litúrgicas
  • e o esquecimento de que “a vida eclesial” já não pulsava nas veias do latim,
  • mas nas das línguas nacionais, que não eram mais, decorridos 50 anos, línguas de tradução, mas línguas de experiência e de criação.

Uma retomada posterior, na Páscoa de 2012, por parte do Papa Bento XVI,  carta aos bispos alemães sobre a questão do “pro multis”, pôs em evidência mais uma vez, a força do “dispositivo-Ratzinger”:

  • a tradução literal “fuer viele” [por todos]
  • devia impor-se “afetivamente” e “autoritariamente” pois no plano conceitual deveria ser desmentida por uma catequese cuidadosa, que deveria explicar que “por muitos” significa “por todos”. Um retrato da singular evidência da contradição interna do “dispositivo Ratzinger”.

 

3.4. Paralelismo ritual, com efeito anárquico: Summorum Pontificum, ‘monstrum  Romanae curiae’

A última etapa deste percurso eficiente do “dispositivo” encontra-se, em  2007, no motu proprio Summorum pontificum, por meio do qual,

  • ao mesmo tempo que se criava um paralelismo de formas rituais do mesmo “rito romano”,
  • se abdicava da autoridade de orientar a liturgia da Igreja segundo as  linhas da Reforma Litúrgica
  • e se recolocavam  em pleno vigor os ritos que a própria Reforma queria superar, denunciando os seus  limites e distorções.

Mais uma vez

  • o Magistério “se auto-limita”
  • porque não teria a autoridade para orientar a tradição e as escolhas individuais dos ministros ordenados,
  • mas ao fazê-lo restitui autoridade às formas de experiência pré-conciliar.

Aqui o “dispositivo-Ratzinger” argumenta novamente de um modo a-histórico:  “o que uma vez era santo deve poder sê-lo sempre”. Portanto, a Igreja não reconhece a si mesma poder algum de Reforma.

O que já foi perpetua-se de per si sem qualquer possibilidade de orientação ou conversão. E assim um princípio argumentativo, por si mesmo negativo e puramente a-histórico, dá causa a efeitos históricos muito graves :

  • a perda de controle dos Bispos diocesanos,
  • a centralização do controle num órgão “afetivamente condicionado” –  a Comissão Ecclesia Dei, – a difusão de uma relevância ” política” – em sentido eclesial e mundano – da” forma extraordinária “como” forma reacionária”.

O dispositivo de bloqueio não parou as coisas:

  • bloqueou sem dúvida o desenvolvimento da Reforma
  • mas  gerou um verdadeiro “monstrum romanae curiae” [monstro da cúria romana],
  • com consequências lacerantes facilmente previsíveis.

 

4. Francisco e a superação do “dispositivo-Ratzinger”

Como é evidente, todos esses usos do “dispositivo”, mesmo na sua diversidade de contextos e intenções, recorrem a um “lugar-comum” secular do magistério. Todos têm em comum uma sutil dialética entre “perda de poder” e “atribuição de poder”: quando o magistério diz que “não tem autoridade” deixa o “status quo” à autoridade moral [ou liderança, ndt]*.

Isso tende a identificar o que é com o que deve ser. E, por isso, bloqueia o debate sobre

  • a relação entre iniciação e cura,
  • papel ministerial das mulheres
  • sobre as formas da  inculturação litúrgica
  • e sobre o caminho orgânico da reforma litúrgica.

Não é difícil notar que “este não reconhecimento de autoridade” se identifica com uma preservação do poder adquirido, tornando-se muitas vezes princípio e alimento de uma arriscada inclinação à auto-referencialidade. E, como vimos, no “dispositivo-Ratzinger” este resultado é conseguido através uma síntese original entre “apego afetivo” e “razão teológica reduzida ao princípio da autoridade”.

Em comparação com isso, o  “retorno ao Concílio”  do Papa Francisco parece marcado pela necessidade de “restaurar a autoridade” da ação eclesial. Só assim se poderá sair da “tentação da auto-referencialidade”.

Mas para fazer isso, é preciso uma abordagem diferente da tradição.

A Igreja

  • não se reconhece como uma “história fechada”,
  • como um “museu de verdade a ser guardada”,
  • mas como um “jardim a ser cultivado”.

Por isso seria muito útil reler o pontificado de Francisco, após cinco anos do seu início,

  • não como uma forma incerta e “soft” de ministério pastoral,
  • mas como um repensar da forma em que a Igreja não renuncia a exercer a autoridade e supera o “dispositivo de bloqueio” que J. Ratzinger aperfeiçoou com tanta sutileza durante 35 anos.

Francisco assume a exigência do exercício da autoridade que os seus antecessores deixaram como que suspenso, produzindo sempre resultados caracterizados por “paralisia”. Francesco desligou o dispositivo, mudando seja o papel do apego afetivo seja o papel da razão teológica. Aqui, parece-me, insere-se um elemento

  • de profunda continuidade com o Concílio Vaticano II
  • e de inevitável descontinuidade em relação ao “dispositivo-Ratzinger”.

Cujo impacto, no entanto, ainda não acabou.

 

 

Andrea Grillo

Fontes: http://www.cittadellaeditrice.com/munera/il-dispositivo-ratzinger-una-delle-radici-dellattuale-paralisi-ecclesiale/

(Hiperlinks e “Leia Mais”, em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/579822-dispositivo-ratzinger-uma-das-raizes-da-atual-paralisia-eclesial-artigo-de-andrea-grillo)

 

 

 

Leia mais:

  • A virada profética do Papa Francisco: um simpósio brasileiro e quatro livros para descobrir. Artigo de Andrea Grillo (parte 1)
  • Sexo e ministério ordenado: realidade negada, silêncio imposto, comunhão fictícia. Artigo de Andrea Grillo
  • Ladaria e o sexo feminino: teologia de autoridade com uma ”ratio” demasiadamente frágil. Artigo de Andrea Grillo
  • A intercomunhão na Alemanha e o plano inclinado de Dom Chaput. Artigo de Andrea Grillo
  • Rahner, Martini e Francisco: uma pérola preciosa. Artigo de Andrea Grillo
  • O magistério é um rio, não uma pedra: das frágeis ”dubia” à triste ”confessio romana”. Artigo de Andrea Grillo
  • Presença real e transubstanciação: conjecturas e esclarecimentos. Artigo de Andrea Grillo
  • Summus Pontifex além da Summorum pontificum: as razões de uma reviravolta. Artigo de Andrea Grillo
  • As graves afirmações do cardeal Müller contra o Papa Francisco. Artigo de Andrea Grillo
  • O antiliberalismo católico e o novo governo populista da Itália. Artigo de Massimo Faggioli
  • “Nem empresários, nem carreiristas. Quem evangeliza deve servir”, adverte Francisco
  • “Muita gente está dando uma segunda oportunidade à Igreja graças a Francisco”. Entrevista com José Tolentino
  • Francisco propõe um novo modelo de relação entre a Igreja e a história dos homens. Entrevista especial com Daniele Menozzi
  • Defensores consternados com a reafirmação da proibição da ordenação presbiteral de mulheres
  • Francisco reconhece o martírio de dom Angelelli e seus três colaboradores
  • Papa Francisco e a credibilidade do Conselho dos Cardeais
  • Cardeal Kasper critica funcionários do Vaticano que vazaram carta sobre intercomunhão
  • Hospitalidade eucarística: uma freada brusca do Vaticano
  • Comunhão ao cônjuge protestante: papa freia os bispos alemães
  • Sinodalidade é a grande novidade e também o desafio de Francisco. Entrevista especial com Peter Hünermann
  • Os 11 volumes sobre teologia de Francisco após a tempestade. O que falava o prof. Peter Hünermann um ano após a renúncia de Bento XVI?
  • ”Estas são as divergências que me distanciam de Bento.” Entrevista com Peter Hünermann
  • Igreja “em saída” e exercício da autoridade: além de um “lugar comum … 

 

 

 

 

14 de junho de 2018 | Categoria: Autoritarismo, Bento XVI, Clero conservador, Comportamento, Concílio Vaticano II, Conservadores radicais na Igreja, Divisões na Igreja, Francisco, Igreja em Caminhada Sinodal, João Paulo II, Liturgia, Mulheres e Igreja, Reforma da Igreja, Reforma Litúrgica, Sacerdócio para as mulheres?, Sinodalidade da e na Igreja

Leave a Reply Cancel reply

You can use these HTML tags

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

  

  

  

Tópicos recentes

  •  O cisma em câmera lenta da igreja alemã, entre o abuso e o espírito da época
  • “Basta um Homem Bom para haver Esperança!” – Expectativas de curdos e iraquianos sobre a viagem do Papa ao Iraque
  • DINHEIRO PÚBLICO BANCA A FORMAÇÃO DE MISSIONÁRIOS PARA EVANGELIZAR INDÍGENAS
  • Arthur Lira não consegue acordo e tira PEC da imunidade da pauta
  • Fim do cristianismo na Europa? 2
  • Os judeus e Bolsonaro
  • Papa Francisco visitará Glasgow para as negociações climáticas da COP-26?
  • A diplomacia da vacina vai melhorar a imagem da China?
  • Lutero: herança e história. Entrevista com Franco Buzzi
  • Cresce resistência à PEC que ameaça o SUS
  • O Papa Francisco gentilmente chama a atenção de outro “novo movimento eclesial”
  • PEC 186: Guedes prepara sua bomba atômica
  • “Barões evangélicos são parceiros de projeto ultraconservador de Bolsonaro”. Entrevista com o pastor e teólogo Ronilso Pacheco
  • Depois do card. Robert Sarah. Implementar – não impedir – a participação ativa. Artigo de Andrea Grillo
  • Sozinha diante do perigo

Comentários

  • Ednaldo dos Santos Costa em Fim do cristianismo na Europa? 2
  • Herminia Braulio em Cresce resistência à PEC que ameaça o SUS
  • J C Cardoso de Sousajose em O Papa Francisco gentilmente chama a atenção de outro “novo movimento eclesial”
  • José Alcimar em “Barões evangélicos são parceiros de projeto ultraconservador de Bolsonaro”. Entrevista com o pastor e teólogo Ronilso Pacheco
  • Herminia Braulio em Sozinha diante do perigo


Locations of visitors to this page

Metadados

  • Acessar
  • Posts RSS
  • RSS dos comentários
  • WordPress.org
Copyright © 2021 Associação Rumos - Todos os direitos reservados
Powered by WordPress & Atahualpa