O Presidente norte-americano disse em Pequim que o comércio entre os dois países será “justo” e “gigantesco” e que ambos acreditam numa solução para a crise com a Coreia do Norte.
“A China pode resolver este problema de forma rápida e fácil”, afirmou Trump sobre as ambições militares da Coreia do Norte, pedindo a Pequim que reduza as ajudas financeiras àquele país e exortando a Rússia a fazer o mesmo.
No campo das relações comerciais, Trump voltou a lamentar a dificuldade no acesso ao mercado chinês, mas deixou claro que responsabilizava os seus antecessores, e não Pequim, pelo desequilíbrio comercial e elogiou repetidas vezes o seu homólogo, considerando-o “um homem muito especial”. “Vamos fazer isto [comércio] justo e será excepcional para ambos”, disse Trump.
Xi sorriu largamente quando Trump disse que não responsabiliza a China pelo défice e também quando afirmou que o Presidente chinês faz as coisas acontecerem. “É claro que há algumas fricções, mas, com base na cooperação vantajosa e na concorrência leal, esperamos poder resolver todas essas questões de forma franca e negociada”, disse o Presidente chinês. “Manter a abertura é a nossa estratégia de longo prazo. Nunca vamos estreitar ou fechar as nossas portas. Vamos alargá-las ainda mais”, afirmou.
A seguir, garantiu que a economia chinesa vai tornar-se mais aberta e transparente para as empresas estrangeiras, incluindo as norte-americanas, convidando-as mesmo a participar na estratégia de desenvolvimento que está a promover, designada “As Novas Rotas da Seda [uma terrestre e uma marítima]” e destinada sobretudo aos países euro-asiáticos.
À espera de um modesto progresso
Trump quer manter a pressão sobre a China para que endureça ainda mais a sua resposta ao programa nuclear que a Coreia do Norte desenvolve à revelia das resoluções das Nações Unidas. Um responsável norte-americano disse esperar alguns progressos durante esta visita, embora não haja sinais imediatos de um grande avanço.
Nas declarações à impresa, Trump usou palavras mais suaves do que nos últimos anos. Dirigindo-se a Xi, o Presidente americano afirmou: “Eu acredito que há uma solução para isso, como você.” Xi reafirmou que a China vai continuar a trabalhar pela desnuclearização da península coreana, mas não deu qualquer sinal de que vai mudar de estratégia em relação à Coreia do Norte, ao lado de quem lutou na guerra de 1950-53 contra as forças lideradas pelos Estados Unidos. “Estamos empenhados em chegar a uma resolução através do diálogo e de consultas”, afirmou.
O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, que assistiu ao encontro bilateral, revelou o que Trump terá dito a Xi: “Você é um homem forte, eu tenho certeza que pode resolver isto por mim.” Tillerson
- disse que os dois líderes concordaram que não podem aceitar uma Coreia do Norte com armas nucleares,
- mas reconheceu que ambos têm algumas diferenças sobre as tácticas e os calendários.
Num discurso em Seul, dois dias antes, Trump convidara os norte-coreanos “a sentarem-se à mesa” das negociações, em linha com o desejo chinês de uma solução negociada, embora tenha salientado que estava preparado para uma resposta militar, se considerasse a ameaça suficientemente séria.
Numa prova da importância que a China dá a esta primeira visita oficial de Donald Trump, a cerimónia de boas-vindas desta quinta-feira, que teve lugar no Grande Salão do Povo de Pequim, com vista para a Praça Tiananmen, foi transmitida em directo na televisão estatal, um gesto sem precedentes noutras visitas de Estado.
Logo de manhã, o Presidente chinês revelou ter tido uma profunda troca de pontos de vista com Trump, em que se chegou a consenso sobre várias questões de interesse mútuo. “Para a China, a cooperação é a única escolha real, apenas um resultado que agrade a ambas as partes pode criar um futuro ainda melhor”, afirmou.
Xi disse ainda que a China e os Estados Unidos fortaleceram o diálogo de alto nível em todas as frentes durante o ano passado e reforçaram a coordenação em questões internacionais importantes, como a península coreana e o Afeganistão. “As relações entre a China e os Estados Unidos estão agora num novo ponto de partida histórico”, disse Xi.
Os dois líderes tiveram a sua primeira reunião em Abril no resort de Mar-a-Lago, propriedade de Donald Trump na Florida, e continuaram o seu “bromance” na quarta-feira, com uma tarde de turismo ao lado das suas mulheres. No entanto, as divisões que persistem sobre a crise nuclear e o comércio não foram resolvidas. E enquanto Xi está num momento alto, depois de consolidar o seu poder no Congresso do Partido Comunista, no mês passado, Trump chegou à China com baixas taxas de aprovação pública, após a vitória da oposição democrata em duas eleições estaduais e acossado pelas investigações à ingerência russa na sua campanha eleitoral.
O “horrível” superavit da China
Antes de viajar para Oriente, Trump
- criticara o enorme superavit comercial da China com os EUA, classificando-o como “embaraçoso” e “horrível”
- e acusara Pequim de práticas comerciais injustas.
Por sua vez, a China anunciou que
- as restrições dos EUA ao investimento chinês no país
- e às exportações de alta tecnologia precisavam de ser abordadas.
Vários executivos de empresas norte-americanas integraram a delegação liderada pelo secretário de Comércio, Wilbur Ross. A General Electric e a fabricante de semicondutores Qualcomm Inc aproveitaram a viagem para anunciar milhões de dólares em vendas para a China.
Mas o acordo da Qualcomm para vender componentes de 12 mil milhões de dólares a três fabricantes chineses de telemóveis ao longo de três anos não é vinculativo, e os críticos afirmam que tais anúncios públicos às vezes são mais espectáculo do que substância.
“Isso mostra que temos uma relação económica bilateral forte e vibrante, e ainda assim precisamos de nos concentrar no nivelamento do campo de jogo, porque as empresas dos EUA continuam a ser prejudicadas quando fazem negócios na China”, disse William Zarit, presidente da Câmara Americana de Comércio na China.
As práticas comerciais da China foram um dos cavalos-de-batalha de Trump durante a campanha eleitoral, tendo ameaçado tomar medidas uma vez no cargo. Mas para já absteve-se de aplicar qualquer sanção comercial, deixando claro que estava a dar tempo a Pequim para obter progressos na Coreia do Norte.
Um funcionário dos EUA disse que os dois lados estão “sincronizados” sobre a necessidade de minimizar o atrito durante a visita, mantendo um ambiente positivo até à cimeira bilateral prevista para Abril.
Reuters
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