Fala o Padre Giuseppe Crea, que, com o Pastor anglicano Francis Leslie, preparou um estudo a apresentar em Washington
“A instituição precisa de pessoas seguras. Organizadas. Perseverantes. Enquanto for possível viver dos ensinamentos recebidos nesse sentido, tudo bem.
Mas o que acontece quando a vida faz com que você encontre algo inesperado e imprevisto? Que fim terão as certezas?”
- quando a mudança bate à porta,
- quando uma dúvida atravessa a vida,
- quando a organização se revela velha e incapaz de encontrar a gente e de dar respostas adequadas às suas perguntas e às provocações dos tempos
Sólidos e firmes, mas não desarmados quando a dúvida e a mudança afloram na sua alma, depois de terem permanecido por muito tempo silentes, e exigem espaço; capazes de mudar, até mesmo de modo radical e veloz; sempre permanecendo sólidos e firmes, pontos de referência para a comunidade… Existem?
Talvez alguns, aqui e ali, sim. Mas, por enquanto, esse continua a ser um objetivo, bem claro para muitos, talvez, mas não para todos, e que apenas alguns estão a tentar buscar realmente.
- a mistura letal de stress e exaustão emocional
- que esgota as forças de um indivíduo
- e o deita por terra (como pugilista derrotado)
– são cada vez mais numerosos.
- em práticas sexuais extremas ou patológicas,
- até mesmo cometendo crimes.

É desse clero que o padre Giuseppe Crea (foto), missionário comboniano e psicólogo, e o pastor Leslie Francis, anglicano e psicoterapeuta, falarão em Washington na convenção da APA (American Psychological Association), de 3 a 6 de agosto: acompanhar aqui: http://www.apa.org/convention.
Crea, em particular, entre 2013 e 2017, conseguiu estudar de perto 450 casos. Com que conclusões? “Somos uma Igreja tendencialmente epimeteica.” Pausa. Epimeteu, quem era? Irmão do mais conhecido Prometeu e marido da mais conhecida Pandora, no mito, ele não tem um bom papel.
Se Pro-meteu é “aquele que pensa antes”, Epi-meteu, ao contrário, “pensa atrasado”, e epimeteico é sinônimo de obtuso, pouco desperto.
Um julgamento severo. “Uma Igreja epimeteica é forte no aspecto administrativo, baseada nos deveres, mas também pouco criativa; propensa à mudança apenas quando é forçada a isso e não pode abrir mão disso; e, em todo o caso, sempre por lenta evolução e nunca por rápida revolução.”
Assim, em geral, a Igreja tende a formar o seu pessoal. São examinadas as motivações externas, e todos, alguns mais, outros menos, dizem: “Quero me tornar padre, religioso ou religiosa ‘para ser santo’”, ou seja, próximo de Cristo, seu colaborador estreito.
“É uma resposta – explica o P.e Crea – que coincide com as demandas da instituição. Infelizmente, muito raramente são indagadas as motivações subconscientes. Por exemplo, muitas vezes, o futuro presbítero busca uma comunidade-mãe, para confiar e para encontrar solidez e segurança.”
Mas a vida, mais cedo ou mais tarde, nos força a fazer as contas com uma crise, de qualquer tipo. A dúvida atravessará o nosso caminho. O que será, então, da nossa fé? Saberemos enfrentar a dúvida, conviver com ela, sem perder o núcleo da fé? Saberemos ser, para dar dois exemplos muito distantes entre si, como o , oprimidos pela dúvida, mas também habitados por fortes certezas e, portanto, capazes de ir além da dúvida?
A dúvida, se vivida positivamente, é uma provocação para poder dar respostas autênticas à própria vocação. “Uma espécie de chamado vocacional”, explica Crea. E os eventos trágicos sempre têm um valor educativo na vida de qualquer um.
A pergunta a se fazer é: o que o Pai Eterno quer nos dizer através dessas dores? “A instituição – admite Crea – precisa de pessoas seguras. Organizadas. Perseverantes. Enquanto for possível viver dos ensinamentos recebidos nesse sentido, tudo bem. Mas o que acontece quando a vida faz com que você encontre algo inesperado e imprevisto? Que fim terão as certezas?”
É por isso, acrescenta Crea, que o Papa Francisco insiste tanto naquele seu “Saiam!”. Ele nos diz: não tenham medo dos imprevistos. Esse é o antídoto para uma doença tenaz do presbítero, o clericalismo, forma de narcisismo centralizador.

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