Juan Arías – Terça, 19 de julho de 2016
Eis o artigo.
Os políticos não aprendem, e acabam desconcertados pela sociedade. Isso é o que emerge da última pesquisa do Datafolha. Não é preciso ser um semiótico ou um psicanalista para advertir que o resultado dessa pesquisa acrescenta mais de uma surpresa ao momento crítico que o Brasil vive.
É fato que, como na vida, tudo é relativo e fugaz, mas, no entanto, há realidades que se impõem.
Por exemplo, poucos poderiam imaginar que a maioria dos brasileiros preferiria o tenebroso, golpista e direitista Temer e seu Governo (50%) que a inocente, perseguida e progressista Dilma (30%).
Também não era de se esperar que em só dois meses de um Governo interino, com muitos de seus ministros sob suspeita de corrupção, o índice de confiança na melhora da economia tenha crescido 17 pontos.
Como é possível, além disso, que Temer seja rejeitado só por 31% da sociedade, enquanto Dilma, ainda presidente, era por 65%?
E tem ainda mais. Depois dos rios de comentários que foram escritos sobre o famoso “golpe” democrático contra Dilma, que a transformou em uma vítima internacional, como se explica que a maioria dos brasileiros considere como certo que Rousseff não recuperará a presidência e que a maioria prefira que Temer continue governando até as próximas eleições gerais?
Tudo isso é mais curioso, para não dizer misterioso, quando se pensa que nem a figura de Temer, cujo nome não é lembrado por mais de 30%, nem a maravilha de seu Governo, entusiasmam. O que se observa com a pesquisa é que a maioria dos brasileiros está convencida, junto com a maioria dos empresários, que a cambaleante economia que Dilma deixou de herança, em uma das crises mais graves da história do país, começa a respirar positivamente.
O que essas pesquisas parecem indicar é a rejeição consciente ou inconsciente do legado, sobretudo econômico, do Governo Dilma, uma vez que até um Governo como o de Temer chega a dar maior confiança para a sociedade.
Mas as surpresas da pesquisa não acabam aqui: se hoje houvesse eleições gerais, quem as ganharia em um segundo turno e com ampla margem, contra todos: contra Lula, Aécio, Serra, Alckmin, Ciro Gomes, etc., seria a muda, a frágil, a misteriosa, a evangélica, Marina Silva. Quem saberia explicar?
Junto a isso, o maior problema que angustia os brasileiros, contra o que se poderia esperar, não é a violência, nem a educação, nem a saúde, mas a corrupção.
Que os políticos não se esqueçam, os de direita e os de esquerda com tentações de colocar travas nas rodas da Lava Jato. Pagariam duramente.
Políticos e intelectuais, não deveríamos esquecer que a voz da sociedade nem sempre se sintoniza com nossas análises e profecias.
O que essas pesquisas parecem indicar é a rejeição consciente ou inconsciente do legado, sobretudo econômico, do Governo Dilm.
O que essas pesquisas parecem indicar é a rejeição consciente ou inconsciente do legado, sobretudo econômico, do Governo Dilma. A grande maioria da sociedade, essa que tem pouco tempo para pensar e muito para sofrer, a que trabalha duro para que o país continue de pé apesar da prevaricação dos políticos e suas corrupções, costuma ver a vida e a política sob o prisma da realidade com a que têm que lidar a cada dia.
É a realidade dos sem privilégios, dos que sabem pouco das sutilezas jurídicas e muito de como é preciso lutar a cada dia para sobreviver e dar graças ao destino por ainda poder trabalhar, sem o terror do desemprego.
Essa realidade é a que às vezes nos brindam as pesquisas e nos deixam perplexos e desarmados. Tudo porque ainda não nos acostumamos a que a sociedade raciocine com outros parâmetros.
Nesses dias, os pobres da classe C, que sabem que sou jornalista, me perguntam preocupados: “Acha que com Temer vai baixar o preço do feijão?”.
O que tira o sono dos trabalhadores costuma passar longe da ideologia. Agradecem mais pelo pão nosso de cada dia.
Juán Arías
Fontes: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/18/opinion/1468843724_712177.html
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