Rui Jorge Martins | SNCP | 04.12.2015- 07/12/2015
O Papa Francisco considera que é necessário «afirmar o papel insubstituível da mulher na família e na educação dos filhos, como também o contributo essencial das mulheres trabalhadoras na edificação de estruturas económicas e políticas ricas de humanidade».
A declaração conta de uma mensagem, assinada pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, por ocasião da realização, em Roma, do seminário internacional sobre a relação entre as mulheres e o trabalho, organizado pelo Conselho Pontifício para os Leigos, revela a Rádio Vaticano.
«Somos herdeiros de uma história com imensos condicionalismos que, em todos os tempos e latitudes, tornaram difícil o caminho da mulher, ignorada na sua dignidade, deturpada nas suas prerrogativas, não raro marginalizada e, até mesmo, reduzida à escravidão», constatava o papa polaco.
Este legado impediu a mulher «de ser profundamente ela mesma, e empobreceu a humanidade inteira de autênticas riquezas espirituais», apontava João Paulo II, que também deplorava o envolvimento dos cristãos na menorização do sexo feminino.
«Não seria certamente fácil atribuir precisas responsabilidades, atendendo à força das sedimentações culturais que, ao longo dos séculos, plasmaram mentalidades e instituições. Mas, se nisto tiveram responsabilidades objetivas, mesmo não poucos filhos da Igreja, especialmente em determinados contextos históricos, lamento-o sinceramente», assinalava.
Depois de lembrar o comportamento de Cristo, que, «superando as normas em vigor na cultura do seu tempo, teve para com as mulheres uma atitude de abertura, de respeito, de acolhimento, de ternura», a Carta realçava a contribuição por elas dada à humanidade, «não inferior à dos homens, e a maior parte das vezes em condições muito mais desfavoráveis».
«Penso, de modo especial, nas mulheres que amaram a cultura e a arte, e às mesmas se dedicaram partindo de condições desvantajosas, excluídas frequentemente de uma educação paritária, submetidas à inferiorização, ao anonimato e até mesmo à expropriação da sua contribuição intelectual», sublinhava João Paulo II.
O rebaixamento das mulheres é também manifesto no facto de continuarem a «ser valorizadas mais pelo aspeto físico que pela competência, pelo profissionalismo, pelas obras da inteligência, pela riqueza da sua sensibilidade e, em última análise, pela própria dignidade do seu ser».
Além dos «obstáculos que, em tantas partes do mundo, impedem ainda às mulheres a sua plena inserção na vida social, política e económica», soma-se um ambiente social em que «é mais penalizado que gratificado o dom da maternidade, à qual, todavia, a humanidade deve a sua própria sobrevivência».
«Urge conseguir onde quer que seja a igualdade efetiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático», frisava João Paulo II.
A missiva acentuava que um dos «aspetos mais delicados da situação feminina no mundo» é «a longa e humilhante história — com frequência, “subterrânea” — de abusos perpetrados contra as mulheres no campo da sexualidade».
A Igreja, referia o documento, não pode deixar de «denunciar a difusa cultura hedonista e mercantilista que promove a exploração sistemática da sexualidade, levando mesmo meninas de menor idade a cair no circuito da corrupção e a permitir comercializar o próprio corpo».
«Diante de tais perversões, quanto louvor merecem as mulheres que, com amor heroico pela sua criatura, carregam uma gravidez devida à injustiça de relações sexuais impostas pela força», apontava João Paulo II, acrescentando que nessas condições «a escolha do aborto, que permanece sempre um pecado grave, antes de ser uma responsabilidade atribuível à mulher, é um crime que deve ser imputado ao homem e à cumplicidade do ambiente circundante».
Em contracorrente à mentalidade dominante, segundo a qual «o progresso é avaliado segundo categorias técnicas e científicas», é imperativo destacar que «mais importante ainda é a dimensão ético-social, que diz respeito às relações humanas e aos valores do espírito».
«Nesta dimensão, frequentemente desenvolvida sem alarde, a partir das relações quotidianas entre as pessoas, especialmente dentro da família, a sociedade é em larga medida devedora, precisamente ao “génio da mulher”, considerava o papa.

Rui Jorge Martins snpcultura
Publicado em 04.12.2015 | Atualizado em 04.12.2015
FONTE: http://www.snpcultura.org/carta_mulheres_joao_paulo_ii_faz_20_anos.html
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