“As instituições da pastoral familiar da Igreja ganham em realismo sendo elaboradas com os noivos e os casais, nas suas diversas metamorfoses. Não se trata de relativismo, do vale tudo, mas da fidelidade à perspectiva de Cristo perante as instituições mais sagradas: O sábado é para o ser humano, não o ser humano para o sábado.”
Frei Bento Domingues O. P. – 21 junho 2015
Disse-lhe, então, que eram louváveis os seus cuidados com a alma dos outros, mas o seu zelo parecia-me pouco informado e nada esclarecido.
Pouco informado, porque os noivos, para se confessarem, se quiserem, têm muito por onde escolher. Fazer um juízo sobre o secreto estado de consciência de outra pessoa – dizer, por exemplo, que está em pecado mortal – além de atrevimento insensato, é algo proibido pelo próprio Jesus de Nazaré[1] . Isso, por um lado. Por outro, a senhora parece ignorar que a celebração dos sacramentos cristãos implica a presença pascal da acção de Cristo, que atinge todos os tempos e lugares. Deus e a sua graça não dependem dos sacramentos, pois se assim fosse, serviriam para limitar o alcance da acção do Espírito de Deus!
Lembrei também àquela zelosa senhora de não esquecer que o maior dos sacramentos – signos da graça divina – é a Eucaristia. Ora, está inscrito no tecido simbólico desde sacramento – do começo ao fim – a celebração da misericórdia: oferta do perdão de Deus e partilha recíproca do perdão entre os participantes na Missa. Não se trata de um faz de conta ritual, mas da própria substância da Eucaristia.
Esta tentativa de catequese sacramental teve direito a um comentário: vejo que o senhor padre também anda perdido nessas modernices, mas já tem idade para ter juízo!
Só pude acrescentar: eu pecador me confesso, mas ainda que tenha de ir a uma taberna comprar pão e vinho, este casamento terá Missa, como os noivos pediram. Resmungando lá foi arranjar tudo para a celebração e assistiu, num canto da Igreja, “àquele sacrilégio”. A conversa não era secreta. Teve a presença aflita do sacristão.
2. O excelente acolhimento oferecido por muitas paróquias não pode sofrer com o testemunho de um caso lamentável. Não posso, no entanto, esquecer tantos casais que se afastaram da Igreja, para sempre, quando tentavam uma aproximação.
Estamos, porém, em época de preparação do Sínodo dos Bispos sobre a Família. As espectativas são, como é normal, bastante diversas. Espero que a reflexão da hierarquia vá reconhecendo que o sentido da fé dos fiéis, sensus fidei, especialmente dos noivos e dos casais – nas suas diferentes expressões – deve ser o principal lugar de informação para as orientações pastorais. Estas devem assumir sobretudo um carácter metodológico, resistindo às conclusões definitivas. Esse caminho ajudaria a vencer o cepticismo daqueles que já não esperam nada de novo.
As doutrinas e as instituições da Igreja só valem na medida em que, à luz do Evangelho, respeitarem e promoverem o bem da família.
[2] Ler Mt 19, 3-12

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