
Para a Igreja Católica, sobretudo para a hierarquia, a questão dos padres que “saíram” sempre foi, e hoje ainda é, uma questão bastante incômoda e até constrangedora, da qual seria melhor não falar, se isso fosse possível…
Para muitos de nós, que deixamos de atuar como sacerdotes e exercer o ministério (uso “nós”, porque eu também sou um deles), essa questão de sermos “excluídos” ou chamados de “Ex-padres” tem um sabor de injustiça, incompreensão e marca a nossa vida. Tenho certeza que a mesma coisa ocorre também com a maioria das minhas irmãs e irmãos, freiras e frades, que um dia deixaram a vida no convento.
“Saímos” do ministério, devido, na maioria dos casos, a dois fatores: um é a decisão pessoal de cada um de nós de optar pelo casamento e pela família, e outro – o afastamento automático que sofremos da parte da Igreja, que aplica aqui a lei de exclusão (ou sacerdócio ou matrimônio)². Esta é a causa principal e procedimento formal da Igreja Católica como Instituição, nos casos como nossos.
À parte a dramaticidade da situação de “começar de novo”, fica a marca triste e negativa, que é a falta de caridade da parte da Instituição e da parte de outros colegas que “continuam”, salvas algumas exceções. A maioria – e esta é triste realidade – faz questão de não querer saber da situação deles; talvez, para não se sentirem obrigados a ajudá-los … ?
A verdade é, que, para a maioria de nós, sem dúvida, apesar de sofrermos o isolamento e a marginalização ostensiva da parte da Igreja Instituição (temos menos “direitos” dentro da Igreja do que os leigos), continuamos vivendo firmes na Fé, sem nos afastarmos da Igreja de Jesus Cristo. Continuo convicto que o nosso chamado, a nossa vocação e o sacramento da Ordem Sacerdotal continuam válidos e continuam os mesmos na sua forma, porém impedidos e paralisados, por tempo indeterminado, pela lei humana.
O importante é que nós nos sentimos amados e amparados por Deus neste caminho da vida de cada um de nós, que não poucas vezes, mostra-se muito difícil no sentido de garantir a sobrevivência.
Não gosto da expressão “ex-padre”, porque não diz a verdade. Nós nos costumamos a chamar de padres casados ou de irmãos, e muitas pessoas, hoje em dia, também assim nos chamam.
Esse artigo do Pe. Zezinho, citado acima, que na verdade é um depoimento amigo e fraterno de um irmão nosso, que segue no ministério e continua realizando com firmeza – durante todos esses anos de sua carreira – um trabalho de evangelização verdadeiro e excepcional, transmite-nos solidariedade e sabedoria. Não pude não trazê-lo para este espaço.
Não deixe de ler abaixo o artigo do Pe. Zezinho.

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EX-PADRES E EX-FREIRAS
Nós que prosseguimos, devemos a eles o respeito de irmãos e irmãs. Caminharam conosco por anos, sonhando os mesmos sonhos e sofrendo as mesmas dores do reino, até que para eles e elas ficou difícil continuar a servir a Deus dessa maneira. Não deu mais. Alguns podem ter perdido a fé e a perspectiva, mas a maioria continuou amando a Jesus e à Igreja e servindo o Senhor. Não perderam a vocação. Só não foi mais possível servir e amar num convento, no celibato ou no ministério. Para eles ficou difícil demais prosseguir naquele caminho de vida. Para não servirem a Deus infelizes e desajustados procuraram seu ajuste noutro caminho. Há quem os diminua por isso. Há quem fale em perda, fuga, infidelidade e fracasso; o que é injusto, porque há fracassados que continuam, mas servindo sem amor e há muitos deles que se tornaram pessoas melhores depois da mudança de vida. Cada caso é um caso!
Nós que ficamos nos conventos, nas paróquias, nas pastorais e achamos que podemos ir até o fim, temos mais é que respeitá-los. Por um tempo conseguiram, cheios de zelo e amor ajudar o povo de Deus como padres, freiras e irmãos. Foi vocação. Sentiram-se chamados. Houve um momento em que, ou não foi mais possível responder daquele jeito ou sentiram-se chamado a outro caminho. Pediram licença, fizeram tudo nos conformes. Mas, ficar não dava mais. Em nenhum momento quiseram desafiar a Igreja, mas o coração pedia um lar, um amor ou um outro caminho de serviço. Falo dos maduros. Sofreram e ainda sofrem bastante com suas opções.
Tenho vários amigos e amigas, maravilhosos em tudo que já exerceram o ministério sacerdotal e já viveram como religiosas. Aprendi e ainda aprendo muito com eles. Nunca me achei melhor do que eles só porque continuo. Nem sei se os entendo, porque não passei pelo que eles passaram. Mas de ouvi-los, sei o quanto sofreram e ainda sofrem. Continuam companheiros. Alguns adorariam poder atuar, mas nossa Igreja ainda não tem esta opção. Enquanto isso, prosseguem com saudade, mas sem mágoa, na mesma direção do mesmo reino . Mudaram de veículo, mas não de destino. Nunca os chamo de ex padres ou ex freiras. Chamo-os de irmãos. É o que são.
Um dia nossa igreja saberá aproveitar melhor suas capacidades. Enquanto isso não acontece, que sejam vistos como servidores de Deus, lá onde agora estão, alguns mais, outros menos felizes, outros infelizes como antes. Julgá-los, nunca! Essas coisas do coração e da fé não podem ser medidas na base do era e não é mais. A maioria continua viajando na direção do mesmo infinito, amando como antes. Se você nunca viveu perto deles ou delas não terá uma idéia do quanto lhes dói a palavra ex. Não a use. Eles não a merecem.
Pe. Zezinho, SCJ
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¹ Jornal Rumos (Ano 30 /Nº 226 julho/agosto 2012).
² Este critério, hoje em dia, é muito questionado: a punição que cai sobre o sacerdote que opta pelo matrimônio não tem base em delito algum, pois o sacramento do matrimônio não pode ser visto como delito. Será que o padre que casa, possa e deva ser penalizado por isso? Como se sabe, o matrimônio é um sacramento como os demais, não podendo, portanto, ser tratado como se fosse “inferior”, ou pudesse prejudicar ou invalidar algum ato sagrado.
Postado por Walenty Cejnóg
Infelizmente a Igreja católica é muito vagarosa em se adaptar aos Sinais dos Tempos! Acho que ela mostra aí como é pecadora! Claro que toda inovação deve ser questionada e estudada mais a fundo. Mas teimosia e intolerância já é demais! Creio que em toda esta história de não querer mudar para melhorar o bem-estar humano e espiritual das pessoas envolvidas contêm muito de preconceito e de interesses fúteis e antievagélicos!
Uma observação:muitos deixam o Ministério não necessariamente para se casar, mas por divergências com a hierarquia, paradigmas pastorais e de teologia, sistema clerical e com colegas. O sacerdócio é divino e o clero é diabólico. O Mandamento do Senhor e Mestre é muito explícito: ” vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros” e não um dos outros conforme se faz a partir da igreja romana até hoje. O Senhor e Mestre é somente Jesus e abaixo dEle deve haver apenas discípulas e discípulos que se amam e celebram a Páscoa, o Reino de Deus. A expressão “ex” nada mais representa do que uma hierarquia que apenas lava os pés dos outros na hipocrisia da humildade e no sentimento de que está por cima. Afinal,essa hierarquia acredita mesmo no ” sacerdos in aeternum”? Não parece.
gostaria de dizer que devemos continuar a amar os padres que deixaram o celibato, pois a própria igreja católica diz que em certos casos ele ainda poderá exercer seu ministério e além disso são nossos irmãos.Quanto à questão do celibato, não deve ser discutido,pois o celibato é algo querido por Jesus Cristo, Nosso Senhor.Gostaria de dizer que o verdadeiro católico ama a santa igreja, mesmo com os defeitos de seus membros-leigos ou hierárquicos-,porque a Igreja é santa.Vamos estudar mais a história da Igreja e amá-la como Cristo amou-a e se entregou por ela.Católicos lembrem-se que a maioria dos nossos santos faziam parte do clero-eles não são diabólicos.Amém e paz.
” a maioria dos nossos santos faziam parte do clero-eles não são diabólicos…” Necessário saber quem canoniza, o leigo ou o clero com seus interesses políticos.
Sou filho de padre e o digo com orgulho. Meu pai jamais deixou de ser padre, embora tenha deixado a Igreja para poder casar-se. Tenho a firme convicção de que a vocação ao sacerdócio em nada é incompatível com a vocação a ser pai de família, esposo… Ao contrário, estas vocações se complementam pois meu pai se tornou um padre melhor depois de conhecer minha mãe! Ainda hoje me chamam de “o filho do padre” e o fato muito me engrandece. A Igreja é primeiramente o povo de Deus e depois, somente depois, é também o clero. Não deixarei de ser católico e de participar dos sacramentos, mas a hipocrisia e o apego ao falso moralismo e aos rituais vazios me entristecem.
Creio que a Igreja estará mais completa quando houver no seu presbitério sacerdotisas e padres casados. O amor entre um homem e um mulher é sagrado querido por Deus. “Não é bom que o homem viva só” “O Deus que Deus uniu (homem e mulher)ninguém jamais separa” ,nem a igreja, o amor é mais forte.
Conheci alguns padres que deixaram a batina para se casar. Um foi muito especial para mim, frei Lino, era frei da Igreja Nossa Senhora do Carmo no Rio de Janeiro na Vila Cosmo. Ele foi uma pessoa muito especial num momento muito difícil da minha vida, me ajudou muito. Isto aconteceu pelo ano de 1965. Até 1970 nós tínhamos contato com ele.Mas depois ele escreveu para o meu pai dizendo que havia deixado a batina para se casar. Sei que ele era de Itaim ou Itú e que o pai dele tinha plantação de tomates. E que o nome dele era Etelvino e o sobrenome era estrangeiro acho que suiço. Gostaria muito de saber dele, se ele tivesse casado e continuado como padre tenho a certeza de que teria sido um excelente missionário. Pena que a igreja perca estas pessoas só por se casarem. Gostaria de saber dele e de sua família.
Acredito que chegou o tempo da esperança e da mudança! Aa portas se abrirão e os que desejarem irão entrar por ela! Eu acredito!
SER CASADO OU NÃO, É UMA NECESSIDADE PESSOAL DO SACERDOTE NA IGREJA- ELE DEVE SER, E SE SENTIR COMPLETO PARA O SECERDOCIO.