Francesca Sabatinelli e Mariangela Jaguraba – 24 Novembro 2021 – Foto: Vatican News
A reportagem é de Francesca Sabatinelli e Mariangela Jaguraba, publicada por Vatican News, 23-11-2021.
Diante da revolução que afeta “os nós essenciais da existência humana”, é necessário fazer um “esforço criativo” e “repensar a presença do ser humano no mundo”.
Na mensagem de vídeo para a Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, divulgada nesta terça-feira (23/11), dedicada ao humanismo necessário,
- o Papa indica a necessidade de responder às muitas questões colocadas pela pandemia,
- primeiramente aquelas “fundamentais da existência: a questão de Deus e do ser humano”:
De fato, neste momento da história, precisamos
- não apenas de novos programas econômicos ou novas receitas contra o vírus,
- mas sobretudo de uma nova perspectiva humanista,
- baseada na Revelação bíblica, enriquecida pela herança da tradição clássica,
- assim como pelas reflexões sobre a pessoa humana presentes em diferentes culturas.
O fim das ideologias e humanismo profano
Francisco cita Paulo VI.
Era o final de 1965 e do Concílio Vaticano II, quando
- o Papa Montini convidou a humanidade, que com o seu humanismo secular profano desafiou a visão cristã e permaneceu fechada à transcendência,
- “a reconhecer o nosso novo humanismo”.
Desde então, passaram-se cerca de 60 anos, e daquele humanismo secular permaneceu a lembrança:
Em nossa época marcada pelo fim das ideologias,
- ele parece ter sido esquecido, parece ter sido enterrado
- diante das novas mudanças trazidas pela revolução informática
- e o incrível desenvolvimento das ciências, que nos obrigam a repensar o que é o ser humano.
A questão do humanismo decorre desta pergunta: o que é o homem, o ser humano?
As indicações da Gaudium et spes
Este momento, que Francisco define como “líquido ou gasoso“ e animado pela “fluidez da visão cultural contemporânea”,
- a referência continua sendo a Constituição Conciliar ‘Gaudium et spes’,
- que indica quanto ainda a Igreja tem a dar ao mundo
- e que “impõe reconhecer e avaliar, com confiança e coragem, as conquistas intelectuais, espirituais e materiais que surgiram desde então em vários setores do conhecimento humano”:
Hoje, está em andamento uma revolução – sim, uma revolução – que toca os nós essenciais da existência humana e requer um esforço criativo de pensamento e ação. Ambos.
Há uma mudança estrutural na forma de entender o gerar, o nascer e o morrer.
- A especificidade do ser humano em toda a criação,
- sua singularidade em relação aos outros animais, e até mesmo sua relação com as máquinas,
- estão sendo postas em questão.
O homem como servidor da vida
Sem ceder à crítica e à negação, ressalta ainda Francisco, é hora de pensar
- “na presença do ser humano no mundo à luz da tradição humanista:
- como servidor da vida e não como seu patrão,
- como construtor do bem comum com os valores da solidariedade e da compaixão”.
Portanto, além da questão sobre Deus, há outra questão hoje, que diz respeito ao ser humano e sua identidade:
A Sagrada Escritura nos oferece as coordenadas essenciais para traçar uma antropologia do ser humano
- em sua relação com Deus,
- na complexidade das relações entre homem e mulher
- e na ligação com o tempo e o espaço em que vive.
A fusão “entre a sabedoria antiga e a bíblica continua sendo um paradigma ainda fecundo”.
Entretanto, o humanismo bíblico e clássico, hoje, deve abrir-se ao que outras culturas e outras tradições humanistas podem dar.
Tudo isso, conclui o Papa, torna-se
“o melhor instrumento para abordar as inquietantes questões sobre o futuro da humanidade”,
já que o mundo, hoje mais do que nunca,
“precisa redescobrir o significado e o valor do humano em relação aos desafios que devem ser enfrentados”.
Francesca Sabatinelli e Mariangela Jaguraba
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/614732-francisco-no-mundo-liquido-de-hoje-e-necessario-um-novo-humanismo
Leia mais:
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- Ética para um novo humanismo. Artigo de Giannino Piana
- Adeus sociedade líquida. Bem-vinda sociedade gasosa
- Novo humanismo. Reflexões teológico-políticas
- O humanismo da hospitalidade. Por um novo estilo de vida cristão
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